ABRUPTO

1.2.05


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: CÊNTIMO OU CENTAVO
Enviei, em tempos, email ao Banco de Portugal protestando contra a adopção do termo
cêntimo quando bem se poderia dizer, em Português, um Euro e cinquenta centavos (1,5 €). Note-se que o termo admite submúltiplos, mil avos, e que eu saiba não há "milêntimos".

Junto envio (textualmente) a resposta do Banco de Portugal:

Ex.mo Senhor: Tem razão na observação que faz. De um ponto de vista da correcta utilização da língua portuguesa não estaria incorrecto e até (eventualmente) estaria até mais correcto. Acontece que, quiçá, por uma questão de maior proximidade linguística com as designações adoptadas nooutros países, optou-se em Portugal pela designação "cêntimos".

O Regulamento (CE) nº974/98 do Conselho, de 3 de Maio de 1998, relativo à introdução do Euro afirma na sua alínea (2): "...que a designação dada à moeda europeia será «euro»; que o euro, enquanto moeda dos Estados-membros participantes, será dividido em 100 subunidades designadas «cent»; que a definição da designação «cent» não impede a utilização de variantes deste termo que sejam de uso comum nos Estados-membro...".

Em resposta a este Regulamento, foi respondido: "...in conformity with Council Regulation 974/98, national legislation has already adopted the parallel use of the words cêntimo/cêntimos as the Portuguese terms corresponding to cent/cents(the latter being spelled out as abbreviated
forms of the first ones). (...) We would therefore encourage the Commission services to follow this route."

Com os nossos melhores cumprimentos,

Banco de Portugal - Gabinete de Informação sobre o Euro
(António de Melo)


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(...) também em tempos pugnei (creio que junto do Ministério das Finanças ou Secretaria de Estado do Tesouro) pela adopção da nossa expressão "centavo" em vez de "cêntimo"

na altura havia o argumento da conveniência de distinção entre a fracção do escudo e a fracção do euro, relevante para o êxito do processo de transição e para evitar maiores confusões na fase crítica de adaptação à nova moeda

tanto mais que o cêntimo foi a verdadeira unidade que substituiu o escudo, pela proximidade de valor, e não o euro, de moeda com o valor muito superior de 200 escudos, rectius 200$482

essa preocupação é agora relativa e na linguagem corrente refiro-me com frequência a centavos, com boa receptividade por parte dos interlocutores - por cá, pois no estrangeiro são mesmo cêntimos!

E vou acreditando que, a generalizar-se o uso corrente de "centavo", poderíamos recuperar esta nossa expressão por direito consuetudinário, enfim, pela tradição e força da linguagem popular

aliás, de há muito me intriga o facto de ainda não haver uma denominação popular para o euro, como para a antiga moeda havia "coroas", "paus", etc., sinal talvez de que o euro ainda está na fase da implantação oficial e não conquistou ainda o goto do povo
(antonio)


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Não entendo a oportunidade do problema. Consulta-se o dicionário e encontra-se :

Centavo - s. m., centésima parte de um escudo (moeda); centésimo.

Cêntimo - do Fr. Centime, s. m., centésima parte da unidade monetária de diversos países.

Se podemos distinguir de uma forma tão simples as centésimas partes da anterior e actual moeda, por que não adoptar o termo cêntimo para o caso do euro?
(Jorge Oliveira)

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Um destes dias a minha mulher (que é brasileira) passou um cheque de tantos euros e tantos centavos. Resultado, não quiseram aceitar o cheque. Eu lá expliquei aos senhores que a subdivisão do euro era o "cent" e que este poderia ser declinado conforme cada idioma e país achassem melhor (em Espanha, salvo, fala-se de centavos de euro). E que em Portugal sempre houve centavos e nunca cêntimos. O senhor do balcão resmungou mas aceitou o cheque. E eu agora descubro, com muita tristeza, que quem estava errado era eu, e que "cêntimo" é mesmo a designação oficial da subdivisão do euro em Portugal.

Ao contrário de outro leitor, não me preocupa o ainda não ter aparecido o equivalente à "c'roa" ou ao "pau" com o euro. É só uma questão de tempo (e, lembro-me agora, até já há quem fale em "euricos", o que é divertido). Mas chateia-me que, de forma ignorante, Portugal tenha adoptado o termo "cêntimo" (que é um galicismo) quando nada nos obrigava a isso, perdendo o que era talvez a nossa última oportunidade de recuperar o belo termo "centavo".
(Rui T.)

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