ABRUPTO

23.1.05


APRENDENDO COM CARLOS DE OLIVEIRA SOBRE A GINÁSTICA DA DIGNIDADE

- Dizem em voz alta, não muito alta: que porcaria, que nojo de sociedade, e em voz baixa, baixíssima: ora, o que é preciso é “triunfar”. Esta consciência elástica lembra o chewing-gum e pega-se fatalmente à esquerda e à direita. Por mais dez réis de propaganda ou al contado (também faz jeito). Por ninharias. E no entanto a dignidade cultiva-se como a beterraba ou as abóboras. Semeando-a, adubando-a, colhendo-a na altura própria. Muito rústico? Está bem, arranja-se outra coisa. Citadina. A dignidade, desenvolve-a uma ginástica vigilante e diária, que requer apenas paciência, atenção, vontade. Com uns anos de exercício torna-se instintiva, uma espécie de segunda natureza. Pouco maleável (rentável) na prática social mas esse defeito compensa-o largamente a tranquilidade interior (moral) que permite o crescimento livre de certa intranquilidade (imaginativa, criadora), ponto de partida para toda a obra literária alguns furos acima das “necessidades do mercado”. O que sucede nos casos vulgares é a falta da primeira liquidar a outra ou impedi-la dum completo desenvolvimento. E não me venham com o exemplo de alguns génios i(ou a)morais, porque posso arranjar logo uma dúzia de outros génios para contrapor a esses e, sobretudo, porque disse: nos casos vulgares.

(Carlos de Oliveira)

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© José Pacheco Pereira
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