ABRUPTO

25.12.04


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: A NOSSA CASA



Se nós fôssemos pessoas de medos, o medo estaria em toda esta imagem. Há ali uma dimensão que não é a nossa. Há ali um frio que não é o nosso. Há ali uma força que não é a nossa. Há ali uma perfeição que não é a nossa. Toda a estranheza do mundo está ali. Olhando bem, tudo nos é alheio, tudo é inumano e o inumano é o que mais tememos. Medo primeiro, medo ancestral, medo geneticamente inscrito, medo do que não sabemos, do que não controlamos. Nós confiantes que controlamos, ou seja, possuímos, a nossa pequena terra, que não há mar, nem gelo, nem tempestade, nem rio, nem montanha que não possamos visitar, conquistar, domar com a vontade e a coragem, chegamos aqui e c’est toute une autre affaire!

Claro que há a beleza, que parece a mais humana de todas as sensações. Kant já tinha percebido que não era bem assim, que há beleza que não é humana, que há beleza que infunde o terror. Será que queremos mesmo vê-la? Será que confrontados com este mundo, que é o mundo, que é o que está lá fora, na esquina do nosso pequeno sistema solar, verdadeiramente queremos mais do que saber? Eu sei que sim. Queremos saber, mas vamos querer habitar. Talvez a nossa casa se faça sempre contra o medo. Talvez.

(Da sonda Cassini muito longe, esta foto para o Natal dos terrestres.)

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© José Pacheco Pereira
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