ABRUPTO

23.12.04


APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA: A VITÓRIA DE CATARINA

"Se na consideração do número venceu Santa Catarina as Virgens sábias do Evangelho, reduzindo ela só a cinquenta, quando elas, sendo cinco, não puderam nem souberam reduzir a uma, não foi menos ilustre a sua vitória na consideração do sexo. As virgens, sendo mulheres, não ensinaram a uma mulher; Catarina, sendo mulher, ensinou a cinquenta homens. O apóstolo São Paulo fiou tão pouco do género feminino, que a todas as mulheres proibiu o ensinar: Docere autem mulieri non permitto. E que razão teve São Paulo para um preceito tão universal e tão odioso a metade do género humano, e na parte mais sensitiva dele? A razão que teve foi a maior de todas as razões, que é a experiência: Adam non est seductus, mulier autem seducta in praevaricatione fuit (1 Tim. 2,14): Em Adão e Eva — diz o Apóstolo — se viu a diferença que há entre o entendimento do homem e o da mulher — porque Eva foi enganada, Adão não. — Ensine logo Adão, ensine o homem; Eva e a mulher, não ensine. O que só lhe convém, e o que lhe mando, é que aprenda e cale: Mulier in silentio discatt. Segundo este preceito, que mais parece natural que positivo, pois o Apóstolo o deduz desde Adão e Eva, Catarina havia de aprender e calar, como mulher, e os filósofos ensinar, como homens, como filósofos, como graduados nas suas ciências, e como os primeiros e mais insignes mestres delas. Mas que Catarina fale e os filósofos ouçam, que Catarina ensine e os filósofos aprendam, que Catarina não só dispute, mas defina, não só argumente, mas conclua, não só impugne, mas vença, e tantos homens, e tais se reconheçam e confessem vencidos, foi vitória que de sexo a sexo só teve um exemplo, e de entendimento a entendimento nenhum."

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© José Pacheco Pereira
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