ABRUPTO

11.11.04


EM VEZ DO ESTADO A PARÓQUIA

Os Conselhos de Ministros fora de Lisboa não são novidade. O actual governo tem-se especializado nesse tipo de reuniões, mas seria injusto atribuir-lhe apenas este tipo de práticas. A percursora foi a eng. Pintasilgo, mas muitos outros governos do PS e PSD também andaram em passeio pelo "interior". É uma maneira fácil de parecer que se faz alguma coisa sobre a parte mais deprimida do país e, face à indiferença da comunicação social nacional, sempre se pode obter algum interesse da regional. Em véspera de eleições autárquicas, tem também alguma utilidade.

Só que há mais outra coisa. Nota-se outra coisa: a dificuldade que tem o Primeiro-ministro em entender a governação acima do nível das autarquias, ao nível do Estado. Ele tem tendência para governar o país como se fosse o Presidente da Câmara de Portugal. Tem pouco interesse e conhecimento das matérias exclusivas do Estado, Negócios Estrangeiros, Defesa, Administração Interna, que deixa praticamente em autogestão aos respectivos ministros. Na macro-economia não se mete, o que faz bem. Na micro já não estou certo, porque a politização dos nossos negócios é enorme.

Sobra o que sobra: a gestão político-partidária a partir do estado, a propaganda, chamada “imagem”, matérias a que sabemos dedica grande atenção. E depois sobra aquele misto de governo paternalista, envolvendo clientelas e patrocinato, proximidade e festa popular, banda, majoretes e desfile dos bombeiros, inaugurações e foguetes, boletim com cem fotografias e cartazes de promessas, notáveis agradecidos e “sessões solenes”, que é tão típico da forma paroquial como são geridas as autarquias.

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© José Pacheco Pereira
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