ABRUPTO

1.11.04


DIA DOS MORTOS / SCRITTI VENETI

Na ilha de San Michele há um pequeno convento franciscano. É uma obra histórica da arquitectura renascentista, com a primeira fachada neo-clássica, um edifício belíssimo, com a porta voltada para a laguna, com as ondas a tocarem os degraus num embarcadouro de mármore. Ao lado uma lápide lembra outro habitante dos Piombi, Sílvio Pellico , o das “minhas prisões”. Um dos habitantes do convento, Fra Luciano Neri, viveu toda a sua vida no cemitério, tornou-se “il frate del cimiterio”. Uma humilde brochura que não deve existir em nenhum sítio senão aqui, pousada a um canto da igreja com uma caixa de esmolas ao lado, lembra-o, num testemunho de uma vida entre os mortos por dedicação aos vivos. Na capa, uma fotografia de um velho com um sorriso bondoso mas relutante, com uma reserva que se pode reconhecer na sua mais antiga fotografia, um jovem frade diante da Madonnina dell”orto. Um dos capítulos fala da “sapenza della semplicitá”, noutro, o cardeal patriarca escreve: “Nel paradiso possa continuar ela sua opera, che era grande dono per chi cercava uno sprazzo di speranza.” A sua campa está lá, a foto a esmalte e um rosário, e as datas dos seus quase noventa anos de vida (1909-1998).

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© José Pacheco Pereira
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