ABRUPTO

3.10.04


SCRITTI VENETI 9



Eu não sei se há segredos nesta cidade. Não deve haver nenhum que sobre. Não há pedra, inscrição, graffiti, poço, canal obscuro, rua perdida, jardim interior, sobre o qual não se tenha escrito. Não há lenda, fantasma, assombração, raio de sol, posição da lua, silêncio súbito, sobre o qual não se tenha escrito. Passeia-se em Veneza, longe dos turistas, para os lados de trás da cidade, para junto da Madonna do Orto, onde tudo parece diferente da multidão entre San Marco e o Rialto e olha-se para os pés e vê-se o traço de mil palavras também ali. A última vaga de palavras, o último recenseamento dos segredos, veio dos amadores de Corto Maltese trazidos pelos mistérios e as sombras. É, não há segredos. E, no entanto, que faz ali aquela marca de giz que parece um ómega…

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© José Pacheco Pereira
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