ABRUPTO

7.10.04


PASMO, TRISTEZA E REVOLTA

Cada vez se percebe mais que o “PPD-PSD” não é o PSD, mas um pequeno grupo que se comporta como tal. Basta ver como as escolhas cruciais (no aparelho da comunicação dominado pelo estado, no controlo dos serviços de informações, nas autarquias, etc.) estão a ser feitas apenas pela fidelidade individual ao Primeiro-ministro.

Agora tudo vai depender de se saber até que ponto há forças endógenas no PSD, para manter o carácter reformista e moderado do partido, hipotecado a uma viragem à direita que o descaracteriza e o afasta do legado político de Sá Carneiro, hipotecado a uma perda de vontade política de governar para reformas, deixando ao PS a ambição de pedir uma maioria absoluta, de que desistimos há muito. Para isso vai ser crucial saber se o próximo Congresso se realizará em condições de liberdade efectiva e não como um plebiscito ao Primeiro-ministro e sob a chantagem emocional de manter ou não o partido no governo. Duvido, pelo caminho que as coisas levam, mas já duvidei mais. (E ainda duvidaria menos se se criasse uma nova incompatibilidade impedindo de serem delegados ao Congresso todos os militantes que foram nomeados pelo governo para os muitos cargos recentemente distribuídos…).

O pior que poderia acontecer ao PSD seria a repetição do unanimismo apressado que se verificou, cilindrando tudo e todos, no afã de manter o poder, mesmo que a solução encontrada não tivesse preparação nem competência, como aliás todos os sinais já apontavam. Prestamos um mau serviço a Portugal, esquecendo que antes do partido está o país. Esta é uma frase que gostamos muito de repetir, mas que muito se esqueceu nos idos de Junho. O resultado é uma experiência governativa desastrosa que vai penalizar o partido duramente, descredibilizando-o, e ameaça entregar o poder ao PS durante muito tempo. Vai demorar tempo até que o PSD deixe de ser parte do problema e volte a ser a solução para uma governação credível, reformista, honesta, sólida, de gente competente e dedicada, com vontade de servir o bem público, e que, segura do que faz, não tem medo dos comentadores. Eu sei que este é o desejo profundo de muitos e muitos militantes e eleitores do PSD, que assistem com pasmo, tristeza e revolta aos dias de hoje.

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© José Pacheco Pereira
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