ABRUPTO

3.8.04


SEMPRE O MESMO ESPECTÁCULO, TODOS OS DIAS, EM TODAS AS TELEVISÕES

Anteontem o futebol, ontem os incêndios, hoje as derrocadas. Já repararam como tudo é tão parecido? Como tudo ocupa o mesmo lugar nos telejornais? Como uma coisa sucede à outra, ocupando o tenebroso vazio dos dias em que não há imagens “fortes”.

Na televisão todos estes eventos são-nos dados como espectáculos, usando mecanismos narrativos e fílmicos semelhantes, com actores idênticos – a tríade do Sujeito (os jogadores, o seleccionador, os incendiários invisíveis, os bombeiros, os “responsáveis”), da Sorte /Azar, e dos Espectadores Participantes (o “povo”, do futebol, das vítimas dos incêndios, dos habitantes, “levantado do chão” pelos jornalistas demiurgos).

O papel de cada um é rigidamente estabelecido: o “povo” emociona-se com as bandeirinhas, ou chora desesperado a sua desgraça, ou grita insultos contra “eles”. O “povo” na televisão só tem direito à emoção, nunca à razão. Os Sujeitos seguem a regra portuguesa, hoje génios e heróis, amanhã bestas, dependendo da Sorte /Azar, o lugar do deus ex-machina na narrativa. Quem manda? Os jornalistas, senhores da palavra, invocadores das iras e alegrias do “povo”, os que decidem se as imagens são belas ou repulsivas, escolhem a música de fundo, os planos lentos do drama, tudo. Os mestres do espectáculo.

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© José Pacheco Pereira
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