ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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2.8.04
NOLI ME TANGERE
O papel da “cultura” como instrumento de propaganda do Estado moderno (e dos seus governos) é essencial no paradigma Malraux – Lang, de que o actual Primeiro-Ministro já se proclamou discípulo no passado. A “cultura” é, junto com o desporto e o espectáculo urbano, uma das formas modernas do circo que se substitui ao pão. Será ele, o Primeiro-Ministro, o verdadeiro “ministro da cultura”, e aí pode desenvolver, com pequenos custos, operações de propaganda usando esse meio intangível, fortemente dependente do Estado e muito venal. É uma área onde se move bem e onde sabe como actuar, onde sabe como fazer operações pontuais de sucesso garantido. (Outro ministro que também aprendeu a fazê-lo foi Morais Sarmento, envolvendo na reprogramação da “2”, um canal péssimo sob todos os pontos de vista, um grupo de intelectuais, os quais depois ficaram naturalmente constrangidos ou silenciosos na sua crítica ao produto final). É só contar os dias até ver que intelectual (ou artista) da esquerda vai aceitar colaborar com o governo (melhor, com o seu Primeiro-Ministro), calando um sector crítico e suscitando elogios pela escolha. * "O Dr. Pacheco Pereira gosta de fingir que ignora certas coisas. Pretende fazer passar a ideia de que as ideias sobre a cultura de André Malraux, de Jack Lang, e, no caso português, de Manuel Maria Carrilho, são em tudo idênticas às ideias de Pedro Santana Lopes. Mas sabe que existem diferenças abissais entre eles. Os três primeiros são (ou foram) pessoas extremamente empenhadas na cultura e nas artes, não só na vertente patrimonial, mas também na vertente de produção contemporânea, e que, por isso, têm (ou tiveram) um projecto cultural que passa(va) pelo apoio aos agentes culturais, com vista a promover a criação. Não vejo como consegue o Dr. Pacheco Pereira pôr em causa a honestidade das suas opções políticas. Poderá não concordar com as suas ideias, mas não têm o direito que dizer que elas se limita(va)m a "operações de propaganda". Além disso, sendo pessoas empenhadas nas manifestações artísticas e culturais conhecem muito bem o mundo em que se move(ra)m e apresenta(ra)m projecto consistentes Com Santana Lopes, pelo contrário, nada disso acontece. Ele não é definitivamente uma "homem da cultura" e apresenta grandes deficiências quanto a conhecimentos culturais e artísticos, sobretudo no que toca a arte contemporânea (refiro-me à criação dos últimos 200 anos). As suas medidas na área da cultura são muito erráticas, não apresentam nenhuma consistência, funcionando muito mais para fazer alarido (como, aliás, acontece em todas as outras áreas em que intervém) . O exemplo do Parque Mayer é sintomático. A ideia de procurar ressuscitar a Revista Portuguesa, um género teatral sem nenhum interesse cultural, só pode vir de alguém que não percebe nada de teatro mas que sabe muito bem como fazer passar para os portugueses a convicção de que é um político com preocupações culturais. Para finalizar, gostaria de acrescentar que muito mais rapidamente compreenderia que o Dr. Pacheco Pereira estabelecesse uma relação entre Malraux, Lang e Carrilho e Teresa Patrício Gouveia. Por que razão esta relação não é feita? Porque interessa muito mais juntar os três primeiros a uma personagem do PSD incompetente." (Mário Azevedo) (url)
© José Pacheco Pereira
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