ABRUPTO

26.8.04


BIBLIOFILIA

Numa gaveta esquecida, numa cómoda abandonada, numa casa familiar que já ninguém habita, havia um monte de lixo, de papéis velhos. Tinha-os metido num caixote para ver o que era, numa altura em que houvesse sol e vento. O pó era tanto que era difícil abrir o caixote dentro de uma casa. De lá, sai o tempo, como é costume. Os amadores de papel velho sabem muito bem como é. Restos, restos de vidas. Aqui estão três desses marcadores do tempo.









Um é um manual sobre o automóvel, de autoria de João Almeida e Vasconcelos, da velha Livraria Simões Lopes do Porto. Data de 1938 a segunda edição, e é dedicada ao médico que salvou a vida ao autor. No Prefácio, o autor queixa-se que nenhum dicionário acolheu até agora as palavras “garagem” e “derrapagem”…









O mais surpreendente foi o "livro" que tem o símbolo do trabalhador batendo o ferro, numa imagem muito próxima das vinhetas usadas pela Internacional Comunista. É o verso de um livro de recibos da fábrica de “cortumes” “Rio Porto” que existia nos anos trinta em S. Vicente de Pereira, Ovar.


Por último este manual brasileiro de Cármen Otero, Esposa e Mãe. Conselhos às jovens esposas e mães, publicado no Rio em 1948. Lá se dão estes sábios conselhos:

Deves também ensinar os teus filhos que, em presença de crianças menos favorecidas pela sorte, não devem comer gulodices sem lhes dar um pouquinho, mas, como as vezes são muitos e ninguém ficaria servido, é melhor evitar a cobiça dos não favorecidos, afastando-se por ocasião da refeição.
As crianças bem-educadas também não devem caçoar das roupas humildes e dos sapatos gastos dos seus coleguinhas mais pobres e, na hora de se fazer justiça, como na hora da brincadeira, todos, ricos e pobres, tem o mesmo direito.


Como é normal nestas gavetas, só livros úteis.

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© José Pacheco Pereira
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