ABRUPTO

3.8.04


BIBLIOFILIA

Nancy Schoenberger, Dangerous Muse. A Life of Caroline Blackwood, Londres, Weidenfield, 2001

Uma história de mulher: um pouco das Mitford (um blend das várias irmãs), um pouco de Lou Andreas Salomé, um pouco de harpia, um pouco de Plath, muita bebida, maridos pouco recomendáveis (Lucien Freud, Robert Lowell e outro), decadência, literatura a mais.

Quando se é muito belo(a) na juventude, e tudo pára à volta, os estragos da vida são muito visíveis e dificilmente se envelhece bem, se é que isso existe. As fotografias do livro mostram a deterioração da beleza com grande crueldade e percebe-se como Lady Caroline e os seus homens contribuíram activamente para o resultado. Freud, que via figuras e não abstracções nas suas pinturas, percebeu-o muito bem, retratando-a, em Hotel Bedroom de 1954, feia e velha quando ela era ainda muito bela.


*

"Envelhecer bem ou mal é um daqueles conceitos que me exasperam. Não se envelhece bem nem mal. Envelhece-se. Bem e mal. E assim assim. Conforme os dias. É como crescer (aliás, em bom rigor, são a mesma coisa.)

A ideia do “envelhecer bem” é um conceito absolutamente mundano, dos muitos que por ai pululam, que nos fazem prisioneiros do vazio. (e dos cremes anti rugas). Lembrei-me agora de um detalhe de há uns anos (...) que me deixou gelada. Um grande amigo meu morreu. No velório, alguém me perguntou: “Já o viu? Está muito bem.” Claro que não o vi. Nem queria ver. Bem? Não. Morto. Bem e mal."


(RM)

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© José Pacheco Pereira
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