ABRUPTO

26.8.04


AR PURO

O meu ar puro de ontem foi uma pequena excursão de “naturalista amador” às lagoas de Arrimal e à depressão da Fórnea em Alvados (Porto de Mós), ambos os sítios no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros. Das lagoas, a mais pequena, estava cheia de lixo, garrafas, sacos de plástico, detritos produzidos por detritos, a “grande” mantinha uma calma digna, entre um pelourinho antigo e uma bizarra e gigantesca flor-de-lis em pedra deixada pelos escuteiros. A depressão é mesmo uma depressão, banhada pelo sol quente, com os restos de árvores ardidas e o leito seco de uma levada. A “livraria” de pedra estratificada entusiasma qualquer bibliófilo, que a saiba ler.

O saque do “naturalista amador” foi escasso. Hortelã selvagem para secar, um pequeno ramo de flores imediatamente mumificado, dois fósseis e um cristal de quartzo. O cristal é humilde, imperfeito, partido, atravessado por uma inflorescência castanha avermelhada (hematite?). Dos fósseis, um é interessante cheio de uma espécie de vermes tubulares (crinóides?) em várias posições na rocha, incrustados uns, outros só se vê o círculo tubular. Um deles, o que primeiro me chamou a tenção, quando lavei a rocha, saiu intacto do seu leito de morte, pequeno tubo de pedra vindo de um mar antiquíssimo.
O ar estava puro, a não ser um indistinto pó vindo das pedreiras.

*

"O ambiente que se vive em muitos dos Parques Naturais é francamente de lamentar, quando comparamos com aquilo que esperamos encontrar em tais espaços e o que se vê por esses países fora. Em alguns paises os Parques Naturais estão sob uma tutela Nacional, devidamente sensibilizada para essa área que, com a participação muitas vezes de mecenas zelam pela conservação, melhoramento e limpeza dos parques naturais. E aí dá prazer visitar esses parques, onde tudo é considerado não só do ponto de vista do ambiente, mas também com facilidades para os seus frequentadores. Claro que, como em outras coisas, nós temos os Parques que merecemos porque não sabemos, ou merecê-los ou até utiizá-los, ou talvez falta de um plano geral de desenvolvimentos de tais espaços, e é pena.

Outro dia, por exemplo, visitei Caldas da Rainha, e logo à entrada, quem vem de Lisboa, encontra o seu Parque D. Carlos I, que em tempos já foi muito mais cuidado do que actualmente. Há placas assinalando vários espaços, e um deles é o do Parque das Merendas; o espaço está lá, mas o que falta são os equipamentos para as merendas, e é ver as pessoas sentadas pela relva, fora do tal espaço, com as suas merendas, quando uns bancos e mesas rústicas ou outro equipamento do género completaria o espaço., que seria acolhedor, deixando talvez saudade de voltar de novo.

Nós apontamos e reclamamos, mas tudo continua na mesma, tudo leva sempre muito tempo para que as coisas se endireitem. Bem podemos reclamar e exigir, mas somos sempre mandados para a bicha..."


(C Marcos)

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© José Pacheco Pereira
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