ABRUPTO

31.8.04


APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA: "SE PERGUNTA A SABEDORIA DIVINA, PORQUE NÃO PERGUNTARÁ A IGNORÂNCIA HUMANA?"

"Vos autem quem me esse dicitis?" (S. Mateus, XVI.)

"Mui seguro está do seu valor quem tira a sua opinião ao campo. E se é temeridade tomar-se com muitos, com todo o mundo se tomou quem desafiou sua fama. Na ocasião de que fala S. Mateus (cujo é o Evangelho que hoje nos propõe a Igreja) diz que perguntou Cristo, Senhor nosso, que diziam dele os homens: "Quem dicunt homines esse Filium hominis?"

Perguntou o Senhor, para que os senhores que mandam o Mundo se não desprezem de perguntar. Se pergunta a sabedoria divina, porque não perguntará a ignorância humana? Mas esse é o maior argumento de ser ignorância. Quem não pergunta, não quer saber; quem não quer saber, quer errar. Há porém ignorantes tão altivos, que se desprezam de perguntar, ou porque presumem que tudo sabem, ou porque se não presuma que lhes falta alguma cousa por saber. Deus guie a nau onde estes forem os pilotos.

Não perguntou o Senhor o que era, senão o que se dizia: "Quem dicunt?" Antes de se fazerem as cousas, há-se de temer o que dirão; depois de feitas, há-se de examinar o que dizem. Uma cousa é o acerto, outra o aplauso. A boa opinião de que tanto depende o bom governo, não se forma do que é, senão do que se cuida; e tanto se devem observar as obras próprias, como respeitar os pensamentos e línguas alheias. A providência com que Deus permite a murmuração, é porque talvez de tão má raiz se colhe o fruto da emenda. E se eu de murmurado me posso fazer aplaudido, porque me não informarei do que se diz?"


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© José Pacheco Pereira
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