ABRUPTO

19.6.04


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES

"Acabo de ler no seu Blogue uma referência a Neca Rafael e isso despertou em mim uma certa nostalgia. Vivo na Amadora desde que me conheço, mas nasci no Porto e passei, até aos meus 15 anos, todas as minhas longas férias escolares no Porto, no velho Porto – lá a minha casa era na rua da Vitória, entre os Clérigos e a Ribeira, junto às escadinhas e à “Calçada”, “Bataria” – muita miséria, muita canalha de pé descalço… Neca Rafael, Conjunto Maria Albertina e Conjunto de António Mafra, assim como alguns sons de velhos anúncios dos “Emissores do Norte Reunidos” ficarão para sempre na minha memória, do mesmo modo que algumas figuras típicas: o “Carlinhos da Sé”, o “Chona”, a Maria Zé Bidão da Casa Grande, etc… De Neca Rafael lembro-me, aí por 1964, tinha eu uns 7 anos, no Palácio, cantando exactamente esse “Já estás com os copos…” Onde se meteu esse tempo e essa gente digna de filme italiano, num registo algures entre Totó e Fellini?"

(Edmundo Moreira Tavares)

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"Creio pertencer a uma geração, ou a um grupo dentro de uma geração, que nunca ligou nada à noção de Pátria. Lembro-me de ouvir quando era criança falar dos homens que, no Ultramar, davam a vida pela Pátria e achava isso muito vago, bizarro e sem sentido. Já adulta sempre achei que dei mais à Pátria do que ela a mim e dizia que a Pátria nunca nada tinha feito por mim, mostrando algum desprezo por essa noção abstracta e pelos seus símbolos: a bandeira e o hino.

A vida (uma das minhas noções abstractas preferidas) encarrega-se, com a sua infinita sabedoria, de nos mostrar o que às vezes não sabemos ou não queremos ver.

Agora o futebol: não resisto a algum clima de mundial, europeu ou de importante jogo ou final internacional de clubes e lembro-me do sentimento de frustração quando há precisamente 4 anos Portugal perdia as meias-finais para França, naquele mal fadado penalty. Mas o que não consegui nunca esquecer, e ainda guardo na memória as imagens que as televisões nos mostraram, foi a tremenda desilusão, tristeza e impotência estampadas nas caras dos portugueses que, nos ecrãs gigantes das praças de Paris e de outras cidades francesas, seguiam o jogo. O facto de Portugal ter perdido o jogo tornou-se irrelevante face àquela tristeza e foi comovida que vi aquelas imagens e me senti um deles. Sempre que a selecção ou um clube português jogam no estrangeiro é com algum espanto e quase inveja que vejo o entusiasmo e entrega (por vezes tão irracional) com que os portugueses que lá vivem apoiam o lado Luso. Quarta-feira (antes do Portugal-Rússia), no trânsito da Praça de Espanha, passou por mim um carro cheio de rapazes vestidos a rigor de adeptos da selecção nacional que, com janelas abertas, bandeiras nacionais e ruído, saudavam os demais “companheiros” de trânsito. Sorri, respondi à saudação e quando arrancaram vi que era um carro de matrícula francesa. Num arrepio revi as imagens de há quatro anos e outras tantas tornaram-se vivas e senti uma emoção quase incómoda e que não passou de imediato…

…é a Pátria, estúpida! Tem sussurrado uma voz ultimamente.

Deve ser. Só pode ser! Andava eu a tentar entendê-la noutros lados: nas contabilidades do deve e do haver, nos índices do desenvolvimento e do crescimento económico, nas opções estéticas das cores e símbolos da bandeira nacional, na pertinência da letra do Hino Nacional, nas boas ou más governações. Sem saber, ela estava aí e sem a entender, senti-a."


(JPC)

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"Tantas memorias!!Tantas noites no Técnico e em Ciências à volta dos malditos "stencis", com aquele pincel das emendas(era com uma especie de verniz que se faziam as emendas, não era?), os copiografos sempre a avariar,pois trabalhavam horas a fio impiedosamente,apesar da solidariedade dos técnicos da "Gestetner"(soa-me assim,já não me lembro se era assim que se escrevia), que vinham logo que podiam,a qualquer hora!!
E ficava aqui o resto da manhã...
"

(A.Pina Cabral)

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