ABRUPTO

15.6.04


NOTAS EUROPEIAS v. 2.0

Sem ordem, nem sistema, nem pretensão de cobrir todos os aspectos das eleições. Serão acrescentadas à medida que forem escritas, pelo que o texto será continuamente alterado.

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A linha melhor para interpretar as eleições é a linha do bom senso. Aqui o bom senso é considerar que tudo o que parece, é. Não é preciso nenhuma sofisticação especial: o PS, o BE e o PCP ganharam, por esta ordem. O PSD e o PP perderam, por esta ordem.

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Os partidos que ganharam sobreviveram melhor à abstenção, o PS porque os seus eleitores queriam penalizar o governo, o PCP e o BE porque dispõem de um voto militante. O voto militante no PCP é defensivo, no BE é ofensivo. Um tem sucesso porque está a crescer, o outro porque resiste a diminuir.

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Na maioria dos países europeus, os partidos coligados no governo concorrem separados nas eleições europeias, sem que isso ponha em causa os entendimentos governamentais.É um sinal de fraqueza e não de força que se tenha entendido projectar a coligação governamental, – unida por um lógica de poder executivo –, para as eleições europeias

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O PSD elegeu sete deputados, o PP dois. O PSD tinha nove deputados, o PP dois. O grande perdedor da coligação é o PSD. Esta contabilidade política real funciona como um ácido no PSD.

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A coligação ajudou a enfraquecer o Partido Popular Europeu, partido em que os deputados do PSD se integram. Sendo agora menos no PPE (sete em vez de nove) dificilmente conseguirão quer através do método de Hondt, quer de negociações, obter cargos relevantes para os portugueses, mesmo apesar da maioria PPE do próximo Parlamento Europeu (PE) . Pelo contrário, os dois deputados do PP que se integram noutro grupo político europeu ( o PP foi expulso do PPE) , a União para a Europa das Nações, mantêm a mesma força política, mas, como seu grupo conta menos no PE, isso é irrelevante. No seu conjunto, a representação nacional onde mais conta, no PPE, está mais fraca.

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Tenho de há muito a opinião que não é normal não existirem partidos eurocépticos fora das margens do sistema político. Mais ou menos eurocépticos, eurocépticos totais, como o partido inglês da “independência do Reino Unido”, e eurocépticos quanto ao curso político da UE , sem pôr em causa a sua existência. Não é natural que, por exemplo, a recusa da Constituição europeia, símbolo de uma certo processo de upgrade político europeísta, seja marginal ao mainstream do sistema político. Esta disfunção é tanto mais grave quanto se houver, como é exigível que haja, um referendo sobre a Constituição, se verá que há um número muito significativo de cidadãos que a recusam. Esses cidadãos não estão certamente representados em Portugal pela Nova Democracia. Esta é uma razão do desinteresse pela Europa: a disfunção na representação política do debate europeu, falso consenso a mais.

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Em Portugal, como aliás em quase toda a Europa, com a excepção ambígua do Reino Unido, a questão da guerra do Iraque não parece ter sido directamente relevante para os resultados eleitorais. Em Portugal, certamente não foi. Não é possível qualquer teoria explicativa consistente para explicar pelo Iraque os votos espanhois, franceses, alemães ou polacos.

(Continua)

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© José Pacheco Pereira
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