ABRUPTO

8.6.04


A FONTE DA ABSTENÇÃO EUROPEIA

é, do meu ponto de vista, primeiro que tudo, a falta de democracia do processo europeu. Como governos nacionais e burocratas de Bruxelas não desejam envolver os cidadãos, evitam a todo o custo um escrutínio real dos parlamentos nacionais e dos cidadãos. Forçando uma realidade virtual e imaginária que é o “cidadão europeu”, o qual tem o mérito de não existir e, por isso, não controlar o que fazem, evitam a todo o custo o “cidadão nacional-europeu”. Esta é, nos últimos anos e cada vez mais (veja-se o processo da Convenção e o seu fruto, a Constituição), um elemento determinante das suas políticas. Depois admiram-se da elevada abstenção nas eleições europeias ou dos votos “não” nos referendos, como o irlandês ou o sueco.

O processo europeu é hoje essencialmente vanguardista, elitista e burocrático, e tornou-se falsamente consensual. O único país da Europa onde há um verdadeiro debate europeu é o Reino Unido. Excessivo, muitas vezes desequilibrado e chauvinista? É verdade, mas é um facto que a questão europeia está inscrita no centro da agenda partidária, no centro do que divide os dois partidos dominantes e dentro dos dois partidos. Em política, só o que divide é vivo, e, salvo circunstâncias de emergência nacional e internacional, o falso consenso normalmente esconde alguma coisa que interessa esconder e afasta o cidadão comum. Depois não se espere que ele se sinta comprometido e vote.

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Um crítica de Vital Moreira (de que discordo, mas que vale a pena ler) a esta posição em Causa Nossa.

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"Não me sinto menos informado do que a maioria. Sou, talvez, o eleitor médio, com esperança que a média não seja muito ignorante. E devo dizer que, ao contrário das motivações do voto em eleições nacionais (legislaivas, regionais, e presidenciais, por ordem de interesse) não me sinto confiante para decidir quanto às eleições europeias. Acabarei, estou certo, por votar no meu «clube», no meu lado, com o sentido do voto útil. Mas fico preplexo com as declarações do Primeiro Ministro, por exemplo, quando afirma que votar na lista da coligação é confiar na lealdade dos deputados europeus para com este governo, da sua côr. Levanta-se o duplo problema: por um lado, espera-se que os deputados portugueses defendam os interesses nacionais; por outro espera-se que sejam «de direita», ou «de esquerda», da «coligação», ou da «oposição». Há ainda a falta de entusiasmo na verdadeira importância desta (minha) escolha: que diferença fará? Não consigo identificar, cá no meu canto português, o impacto que cada grupo parlamentar europeu teve. Eu sei que me poderia informar, mas a sensação que fica, para este eleitor médio, é a de indiferença, ou impotência. E isso não contribui para uma adesão à «Europa».

(Lourenço Ataíde Cordeiro)

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