ABRUPTO

15.5.04


UM EXEMPLO TÍPICO ENTRE MUITOS

da má fé de que fala Fernando Gil nos Impasses. Num artigo editorial, do Público de hoje, escreve Amílcar Correia sob o título “horror infinito” (não sei como é que se há-de chamar ao holocausto, ou ao Gulag, ou aos extermínios de Pol Pot ou do Ruanda; talvez “horror ainda mais infinito”…):

Um grupo alegadamente ligado à Al-Qaeda exibiu um vídeo com imagens da decapitação de um civil norte-americano, Nick Berg, cuja morte deveria ter sido prontamente condenada por todas as comunidades muçulmanas. Militantes do Hamas exibiram orgulhosos os restos mortais de seis soldados israelitas atingidos mortalmente em Gaza; no mesmo dia em que o exército de Israel fazia mais sete vítimas palestinianas. Como se isto não bastasse, as imagens insuportáveis da prisão iraquiana de Abu Ghraib multiplicam-se e muitas (e piores) imagens estão ainda por divulgar. O mundo não está, de facto, mais seguro depois da morte política de Saddam e o horror ameaça reproduzir-se até ao infinito.


Muito bem. Três casos de horror. Melhor, quatro, porque também lá estão “as sete vítimas palestinianas” (quem serão? Civis? Militantes do Hamas? Não sabemos, só sabemos que estão lá para servir de contrapartida da “exibição” dos restos mortais dos soldados israelitas). Mas é sobre este “horror” que Amílcar Correia vai escrever? Não. Não é. O resto do artigo é só sobre um fragmento desse horror:

"À medida que nos vamos aproximando da data prevista para a transição de poder no Iraque, é cada vez mais evidente a contradição e a falácia entre o discurso da liberdade e da democracia que conduziu a guerra e a prática de torturas e de todo o tipo de arbitrariedades durante o pós-guerra (70 a 90 por cento dos detidos são presos por engano)."


E é assim até ao fim. No caminho, ficou o “grupo alegadamente ligado à Al-Qaeda” (que prudência!) e os militantes do Hamas; o “horror”, afinal, é bem mais finito do que parece. É americano.

(url)

© José Pacheco Pereira
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