ABRUPTO

11.5.04


LIVROS MALDITOS DO PÓS-25 DE ABRIL

Na referência que fiz ao esquecido (e mesmo ignorado, a julgar pelos comentários) relatório das “sevícias”, como era conhecido na época, não coloquei a nota bibliográfica completa que aqui vai :

Presidência da República, Relatório da Comissão de Averiguação de Violências Sobre Presos Sujeitos às Autoridades Militares, Nomeada por Resolução do Conselho da Revolução de 19 de Janeiro de 1976, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1976.

Algumas notas complementares: uma, os factos referem-se ao pós-25 de Abril, essencialmente a 1975, o Presidente que assina a portada do livro era o general Costa Gomes, e o Conselho da Revolução era liderado pelos “militares de Abril” que costumam ir à frente das manifestações. Apesar de nunca ter havido julgamentos destes casos – como de muitos outros envolvendo a chamada “rede bombista” - no caos ainda prevalecente nesses anos, o Regimento do Polícia Militar foi dissolvido, voltando uma parte a ser o Regimento de Lanceiros 2 e criando-se a Polícia do Exército. Os factos relatados nunca foram verdadeiramente contestados na sua veracidade. A cadeia de comando de 1975 é conhecida: o comandante era o major Campos Andrade, que chegou a estar preso com um número considerável de acusações, e libertado sem julgamento e o segundo comandante foi o Major Tomé, expulso do exército em Abril de 1976.

Um segundo exemplo de livro maldito, este ainda mais raro de encontrar, porque nunca foi divulgado ao público, é

Ministério da Justiça. “Caso FP-25 de Abril” . Alegações do Ministério Público com anexo documental, Lisboa, 1987.

O livro, com quase 1050 páginas, foi distribuído institucionalmente, enviado para os outros ministérios, para a Assembleia, e, de repente, resolveu-se parar com a distribuição, pelo que nunca chegou nem sequer à livraria do estado. Os anexos, incluindo a enorme massa documental apreendida nas operações policiais contra as FP 25 de Abril, com destaque para os muitos manuscritos de Otelo, são um retrato excepcional de uma típica organização terrorista da época.

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© José Pacheco Pereira
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