ABRUPTO

11.4.04


POEIRA DE 11 DE ABRIL

Robert Bruce Lockhart, “cônsul” inglês na Rússia revolucionária, espião e conspirador, preso depois do atentado de Dora Kaplan contra Lenine, e que escapou por pouco de ser passado pelas armas, hoje, há setenta e cinco anos, escrevia no seu diário mais uma reminiscência bolchevique. Krupskaia teria pedido ao marido, Lenine, que tomasse conta da sua mãe, moribunda. Ela estava cansada. Disse-lhe: “se ela te pedir alguma coisa, chama-me”. Lenine sentou-se ao lado da cama, pegou num livro e começou a ler. Quando Krupskaia voltou para ver a mãe, esta estava morta. Krupskaia ficou furiosa com Lenine: “Porque é que não me disseste nada?”. “Mas a tua mãe não me pediu nada”.

Lockhart anota “Still Lenin was not inhuman”.



Hoje, há cinquenta e nove anos, os soldados da 8ª Divisão Blindada do Terceiro Exército americano chegaram às colinas que encimam Weimar. Lá em baixo, a cidade continha as sombras de Goethe, Schiller, Nietzsche, Bach, Liszt, seus ilustres moradores. Na colina de Ettersberg, encontraram os restos cuidadosamente preservados do carvalho que tantas vezes acolheu Goethe. As últimas mãos que tinham acariciado o tronco da árvore tinham sido as dos SS que salvaram os restos do carvalho destruído depois de um bombardeamento. Os membros das SS estimavam a memória de Goethe, ou então sabiam que Mefistófeles rondara a árvore.

À sua volta estendia-se Buchenwald, o primeiro campo de concentração que os americanos encontraram. Os soldados americanos vomitavam, incapazes de ver o que viam. Face à barbárie, a cultura pode muito pouco.

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© José Pacheco Pereira
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