ABRUPTO

16.3.04


TODAS AS PIORES IDEIAS

«If we don't hang together then we shall all hang separately» (Benjamin Franklin)

Bastou que a primeira bomba explodisse na Europa para que todas as piores ideias viessem ainda mais claramente ao de cima. Elas já estavam à superfície, mas estavam fragmentadas, dispersas, amolecidas pelo cansaço dos últimos anos. Agora, sobre quase tudo o que verdadeiramente conta (a Europa, a Constituição, as relações transatlânticas, o terrorismo, a guerra), vai-se assistir (está-se já a assistir) ao império de um derrotismo paralisante, de uma defesa do estado de coisas actual, favorável aos violentos, de um abandono de valores e de obrigações, a favor da “paz”, a “paz” do nosso conforto e a “paz” das ideologias.

A mensagem é só uma: matem, mas lá longe, matem os vossos, como sempre mataram, porque isso não nos interessa. Matem os outros, mas deixem-nos a nós em paz. Matem os outros, lá longe nesses sítios intratáveis, matem os israelitas, matem os americanos, mas deixem-nos sossegados. Tirem lá o alvo das nossas costas, que a gente vai correr com o Blair, com o Barroso, com os belicistas da “nova Europa”, e voltar, como disse Prodi, à diplomacia.

Quem entende que se está em guerra, quem sente que se está em guerra, tem que ser agora mais firme do que nunca.


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É tal e qual como diz, mas eu, pela minha parte, sendo um dos tais que me “sinto em guerra”, perante esta avalanche de pacifismo, sinto também que, para já, não é viável invertê-la. Por outro lado, vejo cada vez mais claro que houve por parte dos EUA tremendos erros tácticos que estão sendo determinantes – como se vai sair daquele atoleiro do Iraque? Vejo também nos seus aliados erros e mais erros. Dei por mim a rejubilar com o castigo eleitoral da estupidez autista de Aznar no pós-atentado, como se o resultado desse facto não fosse, necessariamente, aturar o inominável frouxismo deste Zapatero (horror dos horrores: homem sem vícios e de um anunciado “politicamente correcto” que augura o pior). Até que ponto essa incapacidade do PP em gerir o pós-atentado facilitou e magnificou o medo do eleitorado? Agora aqui temos o “anjo querubim” que se apressa a anunciar o regresso dos soldados espanhóis. É abjecta esta pressa, mas, ao fim e ao cabo, não se prepara Bush para fazer algo de equivalente em prol de interesses eleitorais?

Enfim, inquietações e dúvidas sem fim e um mal-estar indizível é o que sinto.


(Edmundo Tavares)

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O seu “TODAS AS PIORES IDEIAS” é polémico, diria um pouco radical. Diria quase em desespero de causa. A sua habitual ponderação parece ter desaparecido. Concordo com a sua análise dos sinais que aparecem, agora mais que nunca, pela Europa.

Mas a “ guerra”? Será que elimina o problema? Foi ela que minimizou os problemas criados pelo IRA, pela ETA, pelos bombistas suicidas em nome da Palestina, pelas Brigadas Vermelhas, pelo grupo Baader Meinhof, pelas Al Qaida, etc? Não será antes a inteligência baseada numa nova diplomacia, no vigor e rigor das Instituições Judiciais e policiais nacionais e internacionais?

Será certamente pouco, dir-se-à. Será um processo lento, dir-se-à. É verdade, a morte anda à solta, gratuita, sem sentido, ontem ali, amanhã acolá. Mas não é a dúvida que aguça o engenho? À força bruta, dura e crua, deve responder-se com rigor, inteligência e argúcia. A classe política dirigente, à escala planetária, deve, tem obrigação de encontrar a solução. Para isso tiveram o nosso voto, já que se dispuseram a fazê-lo e, portanto, deverão ser de entre nós os mais competentes e habilitados para o concretizar.

(Rui Silva)

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Este repentino frenesim com a segurança vem demonstrar que a maioria dos europeus não realizaram de facto o que foi o 9/11 e o que representou. Que as suas opiniões foram formadas no conforto dum sentimento de segurança e com o à vontade de quem admira uma imagem do deserto sem lhe sentir o calor.
Não admira por isso que considerem Israel uma das maiores ameaças à paz mundial. Nem admira que agora cidadãos reclamem medidas e que governantes se desmultipliquem em reuniões de emergência como se tudo não devesse ter estado à muito acautelado.


(João Santos Lima)




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