ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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1.3.04
POEIRA
Muita poeira, muito gesto perdido, muita palavra completamente gasta, muita insensata convicção adâmica. Tolstoy, por exemplo, hoje, há cento e cinquenta e três anos, escreveu no seu diário: “Regra. Em circunstâncias difíceis, actuar sempre com base nas primeiras impressões.” Nunca actuou. Era ingénuo e calculista, uma mistura complicada. Melhor fez, hoje, há setenta e nove anos, em Paris, Anaïs Nin. Anaïs passeava com Hugh Guiller no Bois. Começou a chover. Mães, criancinhas, criadas, amas, namorados, tudo fugiu. Hugh disse-lhe: “I’m Scottish, I love to walk in the rain”. Anaïs disse: “Também eu.” Continuou a chover e parou de chover, caiu uma neblina. Alugaram um barco e foram ao pequeno restaurante da ilha, que está no meio do lago. Pediram chocolate e bolos. “Before us stretched brilliant wet grass and mist-enveloped trees, from which come the cooing and twittering of birds.” Choveu outra vez, a água do lago ficou negra, atravessada apenas pela brancura dos cisnes. “We dreamed together”. (url)
© José Pacheco Pereira
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