ABRUPTO

31.3.04


O VOTO NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

sobre a execução israelita do dirigente do Hamas Yassin, foi aprovado por unanimidade. Como conheço a casa e sei que só há unanimidade quando qualquer voto ou resolução, seja qual for o acontecimento, também bate no lado de cá (nos EUA, ou em Israel, ou no liberalismo, no capitalismo, etc., etc.) ou, acima de tudo, quando bate no lado de cá - este "lado de cá" é para ser rápido e toda a gente perceber - interessei-me em saber o que se passara. O reverso, anote-se, nunca é verdadeiro, nunca há unanimidade quando se bate no "lado de lá", e é por isso que a Assembleia, mesmo com maiorias do PSD , votou sempre o pesar por dezenas de militantes comunistas e socialistas, e apenas por excepção o fez em relação a quem não era nem da oposição, nem da maçonaria.

Para além da questão, já de si um pouco bizarra, da Assembleia da República aprovar um voto de pesar pela morte de um terrorista, quando não o faz pela morte de soldados dos países nossos aliados, a duplicidade de critérios é evidente no voto e na discussão. Nem queria acreditar ao ler a discussão e o voto, mas enquanto Israel e Sharon são nomeados explicitamente, nem uma única vez se pronunciou a palavra Hamas. Fala-se das vítimas civis israelitas, mas sem mencionar qualquer autoria dos atentados, como se elas fossem vítimas da atmosfera do Médio oriente. Quanto a Yassin, o voto propriamente dito não o identifica como aquilo que ele foi, nem a sua responsabilidade na morte dessas mesmas vítimas civis. É por isso que eu desconfio sempre da unanimidade; prefiro que haja clareza política.

*

Que sentido fará proclamar um voto unânime condenando a morte de um terrorista num órgão de soberania de um país que nada tem que ver com a situação em causa? Por esta ordem de ideias, a partir de agora teria-se que se condenar a morte de um qualquer militar israelita ou de um qualquer civil, nacional ou estrangeiro, em território de Israel, com também uma qualquer vítima palestiniana, nesta completa amálgama de resposta e contra-resposta que é o conflito israelo-árabe...
Desta vez, a maioria foi atrás do denominado politicamente correcto...


(Pedro Peixoto)


(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]