"Achei oportuno e interessante o excerto que publicou do livro "Impasses". Parece-me que descreve um sentimento, ou será mais correcto falar em atitude, subjacente à nossa vida no Ocidente e que não é fácil nem de perceber nem de descrever. Ao tentar "agarrá-lo" levantam uma questão que deve já estar (quanto mais não seja desde o 11 de Setembro) na cabeça de algumas pessoas: avaliar-se-á o que significaria o Ocidente desaparecer?.
Esta pergunta, face aos acontecimentos recentes em Madrid, e a todos os outros que o antecederam, merece atenção e ponderação. Será que o desaparecimento da nossa sociedade Ocidental é, a mais ou menos longo prazo, e sem que o desejemos, provável ou possível? Só perante uma séria reflexão sobre as nossas fragilidades (que por vezes e paradoxalmente são também a nossa força) poderemos encontrar a garantia da sobrevivência, a longo prazo, das democracias.
Há quem considere que estamos em guerra. Uma guerra não convencional, que requer uma renovação na forma de pensar, na estratégia, na formação e nos meios para defender e eventualmente atacar. O leitor Rui Silva (ver texto do post das 13h11m) consciente desta necessidade de reflexão propõe inteligencia, vigor e uma nova ideia de universalidade. Estes instrumentos, sem querer negar a sua importância, parecem-me um pouco e difíceis de concretizar. O que será uma nova ideia de universalidade num mundo em que, e só para dar um exemplo, A Declaração Universal dos Direitos Humanos, está longe de ser aceite no terreno, é contestada e posta em causa por se dizer servir os interesses do Ocidente? "
(Joana Pereira de Castro)
"Antes de mais, quero afirmar que tenho pelo JPP uma grande consideração pessoal e intelectual. Dito isto, num recente artigo no Abrupto, JPP refere: “Mas há outros olhos a ver o que aconteceu e esses olhos não vêem o mesmo que eu vejo. Esses olhos são os da Al Qaida, quer tenham sido eles a fazer o atentado ou não. E o que eles vêem é inquietante e perigoso. Vêem a bomba ter resultados que lhes convém, vêem o terror a dar resultados políticos. Eles não vão fazer a distinção entre as culpas do PP e os méritos da bomba. Eles são gente mais pragmática do que parece, ponderam as vantagens e inconvenientes de repetir a bomba, onde e como. É só uma questão de tempo.”
Sempre me ensinaram, que em Democracia, o povo tem sempre razão. Não fica muito bem ao JPP arranjar desculpas. O que, aliás, é contraditório com a sua escola de esquerda."
(Humberto Coelho)
"Se os espanhois votassem em massa no PP para contrariar aquilo que se pensa ser a vontade dos terroristas (e, consequentemente, para evitar que estes repitam a "fórmula" por a acharem resultar), não seria também uma forma de condicionamento, de cedência?; devemos votar à direita por, à partida, isso incomodar mais os terroristas? O dr. Pacheco Pereira denuncia muito a má fé de alguma esquerda -- que concordo que existe --, mas, de caminho, vai colando todos os interesses terroristas a ela, insistindo em associá-los, comentário após comentário: não é também uma forma de má fé? Assim de repente, vem-me à memória a primeira eleição do presidente Sampaio e as ameaças do dr Pacheco Pererira, durante a campanha: que, caso a esquerda ganhasse, seria a chegada da intolerância, carregando em tom alarmista e trágico as suspeitas, como se o dr. Sampaio fosse algum desconhecido de curriculo sinistro, desviado e desviante -- até os políticos são pessoas e merecem ser tratados como tal. Ninguém tem o monopólio da má fé nem da independência política; e o dr. Pacheco Pereira, naturalmente, apesar de ter um bocadinho de uma e doutra, também não."
(António G.)
“A grande questão é a de saber se houve ou não manipulação da informação, ou gestão abusiva da mesma, por parte do PP.
É que, se não houve, o poder de influenciar as eleições não foi tanto das bombas mas sobretudo dos media que construíram e sustentaram essa ideia.
E, sinceramente, não sei qual das hipóteses é a pior. Já se sabia que os media tinham o poder de influenciar o voto, mas, a ser falsa a ideia de manipulação da informação, nunca até ontem tinham ido tão longe.”
“Se percebo a lógica da sua preocupação, em "Olhos", os eleitores deveriam ter votado maioritariamente no PP, de modo a que os resultados não tivessem sido os que a Al Qaeda pretendia. Bom, mas se tivessem votado no PP por esse motivo, não deixariam de ter tomado uma opção condicionados pelos terroristas, não é verdade? Ou será que o único voto livre só poderia ter sido no PP?”
(Pedro Soares)
“Não…Não.., é horrível e angustiante saber que os terroristas venceram e eles têm consciência disso e isto é realmente a bola de neve que lhe referi ontem. O problema central e mais pernicioso é a sede de poder, do governo espanhol, querer manter o poder, escondendo fontes e deu um atestado de infantilidade ao povo espanhol, já o tinha feito com a Guerra do Iraque. Se fosse o governo espanhol que fosse para a guerra, óptimo, eram eles que sofriam as consequências, mas é o povo que têm que escolher se o governo vai para a guerra, porque são eles as vitimas dessa escolha. Têm de haver união para combater o terrorismo, o jogo de poder, só vem provocar mais sede de poder e esta sede doentia gera violência. Além disso, não haverá estratégias inteligentes de combater o terrorismo que não a guerra?!!!!... deve haver de certeza, quando os homens tiverem uma alma superior aos dos terroristas, e esquecerem a vitória como um fim em si mesmo, e se convencerem que o mais importante é ajudaram a criar um mundo melhor.”
(Irene)
“A propósito da afirmação de Zapatero sobre a retirada de tropas espanholas do Iraque - Muito mais que o horror de 200 mortos e 1400 feridos assusta-me que a actuação terrorista decida eleições legislativas, opções políticas e decisões estratégicas.”
(João Melo)
"O seu “posted” Olhos é muito curioso. É curioso porque deixa uma dúvida no ar. Como devem as Democracias do tipo Ocidental, representadas pelos Governos legítimos, comportar-se na sua Gestão da “coisa pública”?
- Governar para evitar as “bombas”, cedendo nos seus declarados princípios, para não provocar a “ira” dos terroristas?
- Governar para evitar as “bombas”, não cedendo nos seus declarados princípios, arriscando-se a provocar a “ira” dos terroristas?
- Governar para evitar as “bombas”, analisando friamente todas as situações e procurando a melhor solução para o país, esquecendo talvez, os restantes membros da comunidade internacional?
O terrorismo está aí, como de resto sempre esteve, tenham os seus autores o nome que tiverem. Agora talvez mais à escala planetária. Li, algures, que “Estamos em guerra” relativamente a esta dita nova situação. Não concordo. A guerra, no seu aspecto bélico de armas, movimentações maciças de homens e materiais, num confronto entre estados parece, nada leva a lado nenhum.
Estamos sim no início dum grande período de reflexão universal (nomeadamente no Ocidente), de como fazer face a este problema. Se será com guerra, duvido. Mas será, isso sim, com inteligência, com vigor e, mais importante com uma nova ideia de universalidade e, porque não de ecumenismo. Cumpre aos poderes instituídos descobri-la. Este é o desafio às sociedades modernas. Saberemos encontrar a resposta?"
(Rui Silva)
"A guerra civil espanhola, que antecedeu a II Guerra Mundial, foi utilizada por algumas das facções que viriam a estar em confronto - com grande destaque para a Alemanha - como um laboratório de ensaio para o confronto que se avizinhava.
Nela, foram experimentadas algumas estratégias inéditas na altura, como o bombardeamento massivo de cidades, de que Guernica foi um exemplo tristemente célebre imortalizado por uma obra-prima de Picasso. A vitória das tropas leais a Franco, fortemente apoiadas por forças aérea alemãs, serviu para aumentar a moral dos exércitos desse país, em vésperas de se lançarem num conflito em grande escala.
A Al-Qaida, ao que tudo indica, executou um espectacular atentado em Madrid em vésperas de eleições, do qual resultaram 200 mortos. Dias depois, a população acorreu em massa às urnas, tendo derrotado o partido do governo (que sempre teve um discurso duro perante o terrorismo) e elegendo um partido com uma postura mais branda.
Numa primeira leitura, é compreensível esta atitude da população. Há a percepção de que, quanto maior a firmeza demonstrada, mais facilmente nos convertemos em alvo. E ninguém gosta de ser alvo do terrorismo. O problema é que não estamos nesta guerra porque queremos. Não fomos nós que a começamos. Veio ter connosco. E tenho dúvidas de que a possamos evitar, ignorando-a. Passe as distâncias, e as diferenças entre os tipos de conflito, faz lembrar os anos que antecederam a segunda guerra mundial. Quando ninguém se preocupava muito por Hitler estar a armar-se até aos dentes e a opinião pública inglesa considerava Churchill um perigoso militarista. E quando Chamberlain assinava acordos de paz com Hitler, que garantiam a "paz no nosso tempo". Foi o que se viu.
Desta vez, com um brutal atentado realizado em vésperas de eleições, poderemos ser levados a pensar que a Al-Qaida influenciou o seu resultado, dando a vitória a uma força política que lhe é menos hostil. Fica-se, desde logo, a recear o pior para as eleições presidenciais americanas, que terão lugar no final do ano. E a sensação de que as eleições em Espanha marcaram um ponto de viragem na guerra contra o terrorismo, de consequências imprevisíveis."