ABRUPTO

15.3.04


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES (Actualizado)

"o povo é quem mais ordena. É tão simples como isto e, antes de ficar complicado, deve continuar assim simples."

Mas não é assim tão simples. A não ser num estado permanentemente revolucionário. Porque a democracia não é a vontade das massas, antes o voto de todos os cidadãos.

A vontade expressa, para ser soberana, tem de ter regras, que nos livrem dos populismos de extrema-direita e extrema-esquerda. Sem essas regras porque não governar por sondagens, ou pela força de manifestações de rua?

O voto foi feito e o novo governo eleito. Tudo legitimamente. Mas não foi simples, nem sequer normal.


DBH (No Quinto dos Impérios)


A inesperada vitória do PSOE foi, em certa medida, um facto bom para Democracia. Já dizia, salvo erro, Salazar: em política o que parece é. Ora, o que pareceu no pós-atentado é que houve uma “gestão dos mortos” por parte do PP. Certamente isto é muito injusto, pelo menos, para muitos dos seus dirigentes. Mas foi o que efectivamente pareceu. Se num primeiríssimo momento era lógica a pista ETA, insistir nela, nos moldes em que foi feito desde então, até pareceu um “acto falhado” da expressão de um inconfessável desejo mórbido (passe o terrível exagero…). Só que, perante a selvagem tragédia, as gentes perceberam que uma coisa era a ameaça do “terrorismo paroquial” etarra, outra a ameaça do “mega-terrorismo” global da Al-Qaeda. Instintivamente, saber esta verdade tornou-se-lhes crucial. Preso aos seus inimigos de estimação, o PP não soube ter o rasgo estratégico: detectar a nova ameaça e dispor-se na primeira linha para o combate – era, aliás, quem estava em melhores condições para o fazer! (É nestas e noutras que se notam ainda alguns tiques de lastro “franquista”). Sob este ponto de vista, o castigo eleitoral a que acabou por ser submetido é uma vitória da cidadania e da vivência democrática – se quem nos poderia garantir mais segurança perante esta ameaça, cobardemente, não a reconhece, nem a assume, pois, vamos dar oportunidade a quem nos diz ter podido evitá-la. Porém, o poder nas mãos da esquerda, sobretudo, desta esquerda “dialogante” e politicamente correcta é assustador por muitas razões … a começar pela economia. Lá vem a “marcha à ré” num saudável e equilibrado processo de liberalização e competitividade. Para o mundo é péssimo. Retirados os soldados espanhóis do Iraque, fica dada o mote … para o resto da Europa. Em vez da mobilização para a guerra ao mega-terrorismo, o que temos, é a ignóbil cobardia. Os “barbudos “ de Carachi e quejandos anotarão devidamente o êxito da coisa, ou seja, do êxito da chantagem do terror e o crescente isolamento dos EUA. O eleitorado espanhol imagina, por agora, que uma inflexão pacifista pode evitar futuras barbáries. Deus queira que esteja certo, embora a História nos diga que não.

(Edmundo Tavares)

O resultado das eleições em Espanha vieram demonstrar o perigo que há em pôr no mesmo plano o combate político interno nas democráticas e a discussão sobre como melhor combater o fenómeno do terrorismo a nível global.
Assiste-se assim a uma estranha e involuntária aliança entre correntes políticas de matriz Marxista que persistem numa boa parte da esquerda, e o fundamentalismo Islâmico.

Segundo a doutrina Marxista, uma visão do homem assente na ideia de que à nascença arrancamos dum zero, sendo por isso ele essencialmente um produto da sociedade – aliada à ideia de que o mundo pós revolução francesa se divide basicamente entre exploradores e explorados, assumindo como verdade “cientifica” que se há pobres e fracos, é por culpa de haver outros que são ricos e fortes, conduz logicamente à conclusão de que se há males no mundo – e nisso todos estamos de acordo – eles são uma consequência directa do sistema político em vigor. O que actualmente e à escala global significa a total responsabilidade dos países ricos, com os EU à cabeça, perante as desgraças do mundo.

É neste contexto que a referida esquerda, mesmo condenando o método terrorista, a entende como uma reacção desesperada de pobres e oprimidos contra os seus exploradores. E é neste contexto que essa esquerda entende uma política activa em relação ao terrorismo como uma manifestação oportunista do “explorador”.

Bin-Laden não é um desesperado. Bin-Laden, lucidamente procura forçar o devir do “seu” mundo, independentemente da vontade daqueles que diz representar e legitimando-se na miséria do “seu” povo e na sua natural aspiração a uma existência digna. E nesta última parte encontra ressonância no sentimento da referida esquerda.

Por outro lado, supondo que ainda está no prazo a profecia marxista, a esquerda em questão não pode deixar de ver no fenómeno Al-Qaeda um agente da História, gerado pelo próprio Capitalismo e conducente à sua auto-destruição tal como estava escrito.

Não estou a sugerir de forma alguma a existência de uma qualquer estratégia concertada entre a esquerda e o fundamentalismo islãmico. Mas não tenho dúvida que ambos beneficiam com as acções um do outro, pela simples razão de que o inimigo é em muitos aspectos o mesmo. E se no caso da esquerda acredito que a coisa seja puramente acidental, já no caso dos fundamentalistas desconfio fazer parte de uma estratégia que instrumentaliza esta esquerda, como parece indicar o timing do atentado de Madrid.

Em termos operacionais, uma retira espanhola do Iraque não tem qualquer peso. O perigo aqui é que os terroristas se convençam de que com outros 3/11 conseguem determinar decisões políticas em benefício próprio. Ou seja, que o terrorismo funciona, e que a esquerda na sua obsessão anti-capitalista e anti-americana ajude à festa.


(João Santos Lima)

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