ABRUPTO

15.3.04


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: ESPANHA E O TERROR 2


"Concordo com sua "lembrança", penso que a viragem política que ocorreu ontem em Espanha, com o regresso dos socialistas ao poder, só poderá surpreender os mais distraídos, depois de analisados friamente todos os acontecimentos ocorridos nos últimos três dias, a contar desde o dia do terrível atentado que abalou Madrid e todo o mundo civilizado.
A verdade é que este acto terrorista fez com que muitos milhares de espanhóis esquecessem os quatro anos de governação da direita em Espanha e centrassem toda a sua atenção na forma possível de exprimir o seu medo em relação ao terrorismo perpetrado por diversos grupos islâmicos, que lutam contra o mundo desenvolvido, democrático e livre.

Esses espanhóis (calcula-se em mais de 2 milhões) que estavam a pensar abster-se, por não terem preferência entre o PP e o PSOE, resolveram, a partir do dia do massacre, não ficar em casa e exercer o seu dever cívico, mostrando um cartão vermelho ao Governo que, segundo eles, "abriu" as fronteiras de Espanha aos grupos terroristas islâmicos... Claro que esta é uma visão muito redutora de como se combate o terrorismo, mas o povo é soberano e, só é pena que, tal como acontece em Portugal, muitos cidadãos apenas se lembrem de exercer o seu dever democrático de eleger um Governo, quando o terror e o medo os aflige.
Estas foram umas eleições longe da normalidade, dominadas, não pela razão, mas sim pela emoção e pelo medo. Desta vez, os terroristas ganharam a sua batalha e concretizaram, por agora, os seus objectivos. Mas, certamente, que irão perder a guerra que iniciaram contra os valores do mundo democrático e livre...
"

(Pedro Peixoto)

"As sondagens anteriores não validam a política externa do PP. Havia, se bem me lembro, sondagens que mostravam que a maioria dos espanhóis estava contra a intervenção no Iraque. Sucede que o que os espanhóis aprovavam, na sua maioria, era a política interna do PP, que em duas legislaturas mudou a face de Espanha. E isso permitia que tolerassem o resto (o Prestige e a intervenção no Iraque) porque era a boa política interna que lhes punha na mesa o pão e na alma o orgulho de, independentemente da nação a pertencessem, comungarem da identidade de cidadãos do reino de Espanha.
E é por isso também que a vitória do PSOE me enche de tristeza: ela prova como, em três dias, a cedência ao apelo da demagogia e do ilusionismo político pode malbaratar o património de confiança acumulado em duas legislaturas.
Quando ouvi, na sexta-feira, que Ana de Palácio tinha enviado circulares aos embaixadores a atribuir a responsabilidade à ETA, fiquei perplexo. Quando ouvi Rajoy falar de convicção moral da paternidade etarra dos atentados, temi o pior, pois a imputação de crimes depende de juízos sobre provas e não de convicções morais. E ontem...
Acho que em Portugal temos também de retirar algumas lições do desastre eleitoral. O capital de prestígio do governo reformista pode ser desperdiçado se, em momentos cruciais, ele também ceder à tentação simplificadora. Tenho algum receio, confesso. "


(Fazenda Martins)

A Al Qaida ontem, pela primeira vez, ganhou eleições na Europa. Temo que não seja a última. A cobardia pega-se; o sentimento de honra, tal como o de vergonha, não está na moda; a maior parte da esquerda, especializada no apelo ao que de mais baixo e mesquinho existe na natureza humana, brilhantemente secundada, apoiada e distribuída pela chamada comunicação social, cria o ambiente óptimo para a cultura e proliferação da bactéria - se assim posso chamar a uma federação de grupos terroristas.

As pessoas vão acordar? A Europa vai acordar? Vamos proteger a nossa boa e velha civilização europeia ou, tal como a Espanha fez ontem, pensando salvar a pele já perdemos o instinto de sobrevivência?”



(Maria Helena Lares)

“Para muitos Espanhóis foi-lhes impossível suportar ao mesmo tempo um atentado terrorista e um governo mentiroso. Foi como se um médico lhes dissesse que afinal não iam morrer de cancro mas de negligência médica.

Como muito bem diz, o povo vota, o povo decide, é simples. Não percebo é que depois diga que outros olhos nos vêem. Parece que quer dizer que era simples o povo votar no PP mas é tão burro que foi a correr a votar no PSOE.

Por outro lado, e infelizmente, José Luis Zapatero ao anunciar que a Espanha vai retirar do Iraque não podia começar da PIOR (não sei como hei-de escrever isto a piscar) maneira. É como se dissesse "Bin, tens razão. Ao contrário do que andei a dizer, a Espanha está mesmo no Iraque para combater a Al-Qaeda, como dizia o Aznar e diz o Bush, mas não te preocupes que a gente vem já embora". Se Aznar passou por mentiroso no fim, Zapatero começa a passar por fraco logo no 1º dia.”



(Mário Almeida)

O voto dos Espanhóis foi decepcionante e horrivel. Foi o mesmo que dizer - "Não nos importa o que se passa no Mundo, desde que não nos caiam bombas em cima" - e isto depois de lhes ter acontecido isso mesmo! Deve ter sido a atitude mais egoísta e fechada que se podia ter. É uma visão nacionalista (porque a guerra dos outros não nos interessa, e a culpa é do nosso governo que não nos manteve longe dela - como fez Salazar por aqui) e cega (porque ao mesmo tempo facilita o trabalho aos terroristas, e é o tipo de coisa que a continuar trará mais violência e terror). A primeira acção do novo PM foi de retirar as tropas do Iraque, chamando à intervencão um "desastre" - que evidentemente se agravará com atitudes destas, que enfraquecem a coligação e ironicamente vão fazer a vida mais difîcil áqueles que a guerra visava proteger, os iraquianos (alem disso é uma vitória moral e total para os terroristas - não só conseguem matar 200 pessoas como vêem a sua posição reforçada). Um choque.”

(Alexandre Gamelas)

"Queremos saber a verdade!" exigiam os manifestantes espanhóis entrevistados em véspera de eleições. E quem não quereria? Até o próprio Governo PP, diríamos.
Mas analisando melhor, talvez a pergunta ocultasse uma outra subliminarmente mais autêntica e dramática: " Como nos pode acontecer isto?".
Para esta questão, nem o Governo, nem a "media", nem os votos encontrarão facilmente a resposta.”


(FFMachado).


No post intitulado "Para combater a Má Fé" (julgo que a de Sartre, via Fernando Gil) transfere - presumo que com boa fé - o ónus da prova em relação à autoria dos atentados de Madrid para o PSOE e para o novo Presidente do Governo, aproveitando a boleia para deixar mais algumas das suas habituais críticas à meditatização da política e ao papel dos meios de comunicação social - vá lá que não chegou à história do empolamento da manifestação de Sábado à noite pelas câmaras de televisão, como fizeram alguns.

Parece uma má estratégia argumentativa. Parece-me que a boa fé aconselharia a que procurasse as respostas às interrogações subjacentes na própria conduta pública do Governo espanhol e do partido que o apoia. Não é preciso irmos ao "como e quando foram decididas as conferências de imprensa e outras declarações de responsáveis governativos", basta que nos fiquemos pelo respectivo conteúdo. Não é preciso irmos ao "que instruções foram dadas à investigação, que certezas ou incertezas foram transmitidas pelos serviços de informação", basta que nos fiquemos pelas conferências de imprensa do Ministro do Interior.

A boa fé, caro JPP, é bem menos rebuscada do que o contrário da má fé.”


(André Bradford)

É inacreditável! O que aconteceu em Espanha deixou-me verdadeiramente assustado. A Europa, que infantilmente pensa que está fora do perigo terrorista, nem depois de um ataque como o de Madrid acorda e percebe que esta atitude reactiva é o convite para a repetição da matança dos inocentes. A minha pergunta é esta: quando o terror psicológico a que estamos cada vez mais sujeitos atingir os píncaros da loucura e do descontrolo, quando a vida se tornar verdadeiramente insustentável e insuportável pela pressão do medo, o que é que vai acontecer ao Mundo?
Terceira Guerra Mundial? Mas contra quem? Aonde?
Os terroristas não vão parar. Os E.U.A não vão parar. Enquanto isso pelo continente sul americano, africano e asiático a pobreza e a fome e a falta de motivos para se viver chicoteiam populações inteiras. Aonde é que tudo isto vai parar?
Cada vez mais penso naquela que é, por essência, a questão derradeira da filosofia:
(...) não há senão um único problema filosófico verdadeiramente sério: o problema do suicídio. Julgar que a vida vale ou não vale a pena ser vivida, é responder à questão fundamental da filosofia. (Albert Camus, Le Mythe de Sisyphe, Paris, Galimard, 1942)


(Ivo Monteiro)

Agora sabemos que até da valentia, bravado e orgulho espanhóis pode vir o voto do medo. Sim, eu ponho os vossos adversários na rua. Sim, eu saio já do Iraque ou de outra qualquer justificação com que me ameacem. Sim, eu não me importo com o vosso ideário e prática, desde que as acções pedagógicas sejam feitas com os comboios de outros, não com os meus. E assim os Estados Unidos ficam mais isolados, até na compreensão dessa coisa básica de que é numa guerra que estamos. Europa cobarde. E assim apagadamente suicida.”

(José Mendonça da Cruz)

“Quando os americanos quiserem resolver o problema palestiniano a sério e não com falsas promessas. Quando acabar o fomento do ódio fundamentalista, haverá verdadeira luta ao terrorismo. Tudo o resto por muito que nos queiram “mentir” apenas fomenta cada vez mais ódio e terror.
Julgo que os eleitores espanhóis ao derrotar o PP e a sua política de guerra, também querem uma política verdadeira, pela paz e não pela escalada do ódio e da violência.
E isso é mais importante que os olhos da Al Qaida, pois que a luta contra aquela é com o afastamento dos motivos que leva os árabes a acreditar naqueles fanáticos.”

(Carlos Teles)

Em relação às eleições espanholas, a TSF, com toda a imparcialidade, apresenta online o titulo "Rebelião Democrática". Mas a única rebelião que vi, foi a da inacreditável e provocadora manifestação ilegal à porta do PP em pleno dia de reflexão. E que a ver pelos lenços se percebia perfeitamente de onde vinha. Democrática e com sentido de estado foi a atitude do governo de Aznar, que se limitou a conter uma manifestação ilegal e hostil em prejuizo do seu partido.

(João Santos Lima)

Desconheço, tal como JPP presumo, as "fontes cirúrgicas” da Cadena Ser, não defendo o recurso sistemático a fontes anónimas, mas de algumas coisas sei, porque ouvi, li e vi durante os últimos dias:

- O mesmo governo espanhol que desmentiu todas as informações avançadas em primeira-mão pela Cadena Ser foi o mesmo que, mais tarde e paradoxalmente, as confirmou nas conferências de imprensa.

- A Cadena Ser foi um dos poucos meios de comunicação social espanhóis que foi isento na cobertura dos atentados porque nunca descartou nenhuma das duas hipóteses sobre a autoria dos atentados. Olhou sempre para os dois lados, nunca pendeu só para a ETA ou só para a Al-Qaeda. Não foi permeável às pressões e manipulações do governo espanhol sobre os media espanhóis, preferiu transmitir os factos e recusou retransmitir a “verdade oficial” do governo espanhol que insistia na tese da ETA cego aos indícios e factos que, aos poucos, surgiam. Por tudo isto foi acusada de ser “suspeita”.

A cobertura dos acontecimentos entre os canais que acompanhei – a pública e controlada TVE (TVE 1 e 2 e o Canal de informação 24 Horas), a privada e próxima do PP Antena 3 e o canal autonómico Canal Sur - foi claramente tendenciosa relativamente à cobertura do jornal El Pais, da rádio Cadena Ser e das televisões Tele 5 e CNN+.

O esforço de isenção da Cadena Ser, e dos outros meios, deveria ser aplaudido por JPP que sempre olha com desconfiança para os media e para os jornalistas. Ou será que a necessidade de “incubação” da informação deveria ter falado mais alto?”



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