ABRUPTO

23.3.04


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES

Essa frase é como a outra "os guerreiros da Europa" (Miguel Portas). São sempre julgamentos políticos disfarçados de julgamentos morais. Mas o que mais me incomoda é o facto de os culpados serem sempre os mesmos: os americanos. Nunca essas pessoas condenam mais nada.

(Ricardo Figueira)

Exemplos sobre a manipulação da informação são, parafraseando Sérgio Godinho, "aos montes, são às serras, impossíveis de escalar." Acredito, no entanto, que em alguns casos se trate de ingenuidade ou, sobretudo, de falta de preparação profissional. O jornalismo não falha apenas na linguagem (como o "bombardear" do Público que criticou na Quadratura do Círculo deste fim de semana), falha também na impreparação dos profissionais, na pressa com que as notícias têm de sair, na falta de aprofundamento das questões, na preferência pelo tratamento dramático e subjectivo. Muitas vezes há uma excessiva "democratização" da opinião, pois o mesmo peso é dado a fontes de credibilidade muito distinta.

Claro que há casos em que se torna difícil crer que aconteçam por ingenuidade ou incompetência. Há alguns meses atrás, quando saiu o relatório sobre as contas dos partidos, a tsf começou a notícia dizendo que "todos os partidos" presentes no parlamento apresentavam irregularidades nas contas. E passou aos exemplos. Primeiro o PS (primazia por ser o que apresentava maiores irregularidades), depois os dois partidos da coligação governamental. Foi, então, a vez da CDU que, para espanto da estação noticiosa, também não ficou manchada pela existência de irregularidades. E a partir daqui, o silêncio. Dos quatro partidos referidos, foram citados vários exemplos de irregularidade. Do Bloco, nem o nome foi pronunciado. Achei curiosa a omissão e, quando li os exemplos que tem citado, achei por bem contribuir com estas memórias.


(Paulo Agostinho)

Cibernauta amigo chamou a minha atenção para o seu post de dia 20, no blog Abrupto, subordinado ao tema "MANIPULAÇÃO DA INFORMAÇÃO". Escreve o senhor:
"Um exemplo: relato, hoje de manhã e pela TSF, da entrevista de ontem ao Primeiro-Ministro, na RTP1. Relato factual, relativamente neutro, com extractos das declarações. De repente, chega à parte do Iraque, e o jornalista corta a palavra ao Primeiro-Ministro e acrescenta: "mas há quem não pense assim, a engenheira Maria de Lurdes Pintasilgo ."
Dado que estava, nessa manhã, com funções editoriais na TSF, permita-me colocar uma dúvida e fazer alguns sublinhados. Dúvida : o que será um "relato relativamente neutro"? Não o serão todos os relatos? Este seu relato no blog, acrescentando a palavra "relativamente" ao "relato factual" poderá ser interpretado como uma vontade relativamente objectiva de questionar a neutralidade do relato? Sublinhado: o senhor relata no seu blogue que "o jornalista corta a palavra ao Primeiro-Ministro...". Nota : o Primeiro-Ministro não estava em directo. Aquilo que foi colocado no ar foi um excerto da entrevista, correspondente a uma ideia com princípio, meio e fim. No fim desse excerto, o jornalista fez aquilo a que se chama na rádio, um rodapé. Importa lembrar que, naquele excerto da entrevista, Durão Barroso falava no "problema de Espanha", a propósito da intenção, expressa por Zapatero, de retirar do Iraque os soldados espanhóis. Ora, dava-se o caso de, na mesma noite dessa entrevista, a antiga PM Lurdes Pintassilgo ter expresso, numa conferência pública, a ideia de que "o exemplo de Zapatero devia ser seguido por outros governantes". Quem lê o seu post fica a pensar que, depois de ter "cortado a palavra" ao PM, o malandro do jornalista tratou de deixar ali - a la Moura Guedes -, a sua opinião sobre a matéria quando, na verdade, fez uma ligação para um novo som que tinha uma evidente relação com o anterior. A manipulação tem muitos matizes, como sabemos, mas quero crer que este seu relato pecou apenas por ligeireza, sem ponta de malícia.


(João Paulo Baltazar)


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