ABRUPTO

25.2.04


POEIRA

Ontem, há oitenta e nove anos, o embaixador francês em S. Petersburgo, Maurice Paléologue, teve um encontro inesperado. O embaixador estava a visitar uma senhora muito activa na Cruz Vermelha, Madame O. , quando irrompe na sala um homem alto, vestido com um caftan negro,"do género que os mujiks mais abastados usam" , e beijou a senhora com estrondo na mão. Rasputin.

Começou uma conversa de surdos. Rasputin queixa-se da condição do povo russo, da miséria sofrida. Paléologue suspeita que ele quer tirar a Rússia da guerra e que é um homem do kaiser. Rasputin indigna-se:

" O imperador Guilherme... porquê, não sabe que ele é inspirado pelo Diabo?"

E voltou a queixar-se do "sofrimento das massas". A conversa azedou outra vez, até que Rasputin perguntou:

"Será que a Rússia vai ter Constantinopla?"

"Sim se ganharmos", disse o embaixador. Maurice Paléologue era , como o seu nome indica, descendente dos imperadores de Bizâncio.

"Então o povo russo não lamentará ter sofrido tanto, e estará disposto a sofrer ainda mais."

Beijou Madame O. , abraçou o embaixador e saiu batendo com a porta. Antes tinha dito que não era Ministro das Finanças do czar, mas sim "Ministro da sua alma". Foi morto um ano e meio depois.

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© José Pacheco Pereira
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