ABRUPTO

21.2.04


POEIRA

Hoje, há cento e dois anos, como o tempo passa depressa!, Robert Musil foi ao teatro de variedades, à revista, com uns amigos. Uma das “chanteuses”, uma das coristas, não era feia e tinha roupa interior cinzenta. O grupo dele estava um pouco enfastiado e resolveu não convidar nenhuma das meninas para a mesa. Mas Musil meteu conversa com a menina da roupa interior cinzenta, que estava acompanhada pela mãe. Pensou: se ela viesse para a nossa mesa, eu comportar-me-ia “decentemente” com ela. Bons pensamentos, pobre Musil! Enquanto ele estava com esses pensamentos delicados, um dos amigos levou a rapariga para o jardim com abundantes maus pensamentos e práticas. “Génio”, exclamou Musil, fantasma do Parque Mayer, homem sem qualidades.

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© José Pacheco Pereira
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