ABRUPTO

2.2.04


ORGULHO 10 / NOTAS SOBRE AS FORMAS ANTIGAS DE SENSIBILIDADE

Bernardo continua. Descoberta a sua “falsidade”, que faz o “curioso”? Revolta-se. O que é que ele pode fazer para se continuar a ver ao espelho? Revoltar-se, essa última ilusão do espírito, tão ao gosto do futuro, como Bernardo bem sabe:

Si celui qui en est arrivé là n'est pas touché de la grâce de Dieu (or ceux qui sont dans cet état en sont bien difficilement touchés), de façon à sa soumettre en silence au jugement que tout le monde porte de lui, il ne tarde point à devenir effronté et impudent, et à tomber par la rébellion, d'autant plus fâcheusement au dixième degré de l'orgueil, qu'il y tombe d'une manière tout à fait désespérée. Alors celui qui s'était contenté dans son arrogance de mépriser ses frères en secret, se mettant en révolte ouverte, méprise son supérieur même.

A convicção do pecado mostra-se então em todo o esplendor. O orgulhoso já não peca apenas, defende activamente a liberdade de pecar. Como dizem os Provérbios:

Quando o pecador caiu no fundo do abismo do pecado, ele despreza tudo”.

Perdeu as referências, o norte, a pedra. Antes, tinha na sua vida uma barra de ferro que o atravessava, que lhe dava consistência moral, que não o deixava afastar-se da visão divina. Pagava essa barra com as suas penitências, mas tinha uma direcção e uma paz. Os medos humanos dissipavam-se à volta da barra.

Agora, o mundo é feito de gelatina, um gigantesco bordel atrás do qual está uma dança macabra. Tudo agora se resume às pequenas trocas da vaidade, a exercícios de massagem do ego. O orgulhoso despreza agora o que o mantinha de pé. Conta a sua história a todos, e enaltece o valor da sua rebelião. Os demónios dão vozes a todos para lhe responderem que sim, que grande valor tem a rebelião do “curioso”. Ele sente-se bem à mesa da confusão das vozes, sem perceber em que coro já canta. Entrou no último grau do orgulho: o hábito de pecar.

Bernardo escreve o julgamento, próximo de fechar o seu tratado:

"Mais lorsque, par un terrible jugement de Dieu, les premiers crimes ont été suivis de i'impunité, on revient volontiers à ce qui a e procuré du plaisir et plus on y revient, plus on y trouve d'attrait. A mesure que la concupiscence se réveille, la raison s'endort et les chaînes de l'habitude se resserrent. Le malheureux est entraîné dans l'abîme du péché et livré à la tyrannie de ses vices; emporté par le torrent de ses désirs charnels, il oublie sa raison et la crainte de Dieu, et finit, l'insensé! par dire dans son coeur : « Il n'y a pas de Dieu (Psalm. XIII, 1)."


(Em seguida, quase a conclusão)

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© José Pacheco Pereira
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