ABRUPTO

29.2.04


NOTAS SOBRE AS FORMAS ANTIGAS DE SENSIBILIDADE: ALDOUS HUXLEY

Para o debate sobre as formas de sensibilidade, MCP envia uma citação de Aldous Huxley, de Sobre a Democracia e Outros Estudos. A citação é interessante para se perceber como os que vencem acham sempre que perdem. Exactamente quando o sentimentalismo se torna o padrão dominante, empurrado pela sensibilidade romântica, Huxley fala do “exílio dos sentimentos”… pelo capital, pelo negócio.

"Já mencionei os nossos êxitos modernos em coordenar as tendências naturais no sentido da violência. A organização dos desportos como substituto de encontros mais sangrentos, a consagração social do êxito desportivo e a sujeição dos jogos à moralidade são feitos notáveis. Em comparação o nosso fracasso em tratar adequadamente do sexo ou das emoções, parece-nos ainda mais extraordinário. Nem o sexo nem as emoções conduzem ao êxito profissional. Na verdade, elas militam muitas vezes contra ele. O nosso método de tratar o sexo é ainda o método tradicional católico. Mas houve razões transcendentes para a instituição católica do matrimónio e do celibato. Nós não temos tais razões. O melhor que podemos dizer é que a moderação em assuntos sexuais é desejável porque qualquer intemperança no sentido do amor ou da luxúria interfere com a nossa capacidade para o negócio, qualquer infracção ao código comummente aceite é um estorvo na corrida para o êxito. É o mesmo com as emoções. Há muito pouca utilidade profissional para o sentimento. Daí a revivescência dessa estranha ideia dos estóicos, de que o sentimento é de algum modo intrinsecamente efeminado, que é uma função inferior da mente, que deve ser, em todas as circunstâncias suprimido. Do séc. XVIII em diante, apenas com uns breves intervalos, o puramente razoável tem sido o homem ideal. Os sentimentos foram exilados para uma escuridão exterior"


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© José Pacheco Pereira
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