ABRUPTO

29.1.04


ORGULHO 5 / NOTAS SOBRE AS FORMAS DE SENSIBILIDADE ANTIGAS

A jactância é descrita por Bernardo como uma excitação permanente, uma vontade de se mostrar, uma permanente publicidade de si mesmo. O "curioso", preso pelo orgulho, procura intensamente interlocutores, procura conversas, procura polémicas. O "curioso" moderno podia telefonar muito ou ter um blogue:

"Il a faim et soif de gens qui l'entendent, à qui il débite toutes ses vanités; devant qui il répande toutes ses pensées et à qui il dise ce qu'il est et ce qu'il vaut. L'occasion de parler lui est-elle offerte, si la conversation roule sur les lettres, on l'entend citer les anciens et les modernes, les jugements se succèdent sur ses lèvres, et les expressions ampoulées résonnent. "

O monge mais grave observa com humor - Bernardo trai-se aqui - o "rio de vaidades", a torrente de "graças", o "fluxo de palavras" que revela a jactância. Observa o "curioso" a soçobrar no grau seguinte do orgulho : a singularidade. Acha-se único, acha-se predestinado, acha que o que lhe acontece é singular. Passa de imediato à arrogância.

O "curioso" arrogante convence-se: "ele acredita em tudo o que lhe dizem, louva tudo o que faz e torna-se desatento sobre o caminho que segue". Perdeu o seu verdadeiro caminho, segue o caminho dos outros, mas não o sabe. Desde que sinta que agradou a alguém, distrai-se de procurar em si o caminho de Deus. Torna-se susceptível à lisonja. Caminha para a presunção.

( Em que pensa Bernardo na sua cela? Pensa em Abelardo, o adversário, pensa nos monges, o exército de Deus, pensa nos homens pelos quais não tem caridade. Ou melhor , pelos quais não começa por ter caridade. No fim do Tratado rezará por eles.)

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]