ABRUPTO

4.1.04


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES

Sobre NECROLOGIAS

Um pouco à margem do tema deste post lamento a ligação "provincianismo-Minho" que, embora sirva aqui apenas para adjectivar, bem ou mal, o indivíduo em causa, nos remete para a eterna visão "de Lisboa e Porto e o resto é paisagem" ainda presente no imaginário colectivo nacional, sublinhada pela generosa inclusão "mesmo" de uma cidade como o Porto nessa classificação.

Julgo que nos dias de hoje, mesmo os maiores cidadãos do mundo não deixam nunca de ter presente os diferentes graus de identidade geográfica por onde se movem, ou por onde já passaram, sejam de nível regional, nacional ou civilizacional. A falta de um desses elementos parece-me difícil de acontecer a quem quer que seja, podendo, talvez mesmo, acumular diferentes "níveis", como os muitos migrantes que, mudando de cidade dentro de um mesmo país, alteram o próprio sotaque.

Por outro lado, no nosso país, a dicotomia capital-província ter-se-à acentuado no século passado graças a anos de isolamento do exterior, centralismo excessivo típico de um país pouco desenvolvido, e pela longa manutenção de um império colonial com sede em Lisboa. A rotulagem de Braga como "província" foi ainda brutalmente ampliada pelo seu conhecido posicionamento político durante as passadas décadas, tendo a cidade sido absolutamente ostracizada após o 25 de Abril, o que só não se reflectiu no seu desenvolvimento, ironicamente, pela "ditadura" que se auto impôs.

Num mundo global, em que os traços de pertença regional dos sujeitos continuam insistentemente a sobreviver (embora já condenados à extinção vezes sem conta) e se vão integrando noutros de nível mais vasto, correspondentes aos diferentes palcos por onde se movem, não será, isso sim, sinal de provincianismo, a tentativa de manutenção desse velho e sufocante paradigma de divisão geográfica "capital-província"? Vista de Berlim ou Bruxelas, haverá alguma coisa mais provinciana que a velha revista do Parque Mayer?


(Luis Pedro Machado)

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