ABRUPTO

27.1.04


MASTURBAÇÃO DA DOR 2 (Actualizado)

"Há quem se enoje, sim.
Só espero que receba dezenas de milhar de respostas como a minha e delas dê nota no ABRUPTO, para reconforto de quem faz da decência o ideal possível desta vida. Tão assediada pelas "estratégias velhacas" de que falava Camilo (a propósito de gatos, mas não interessa, o epigrama assenta como luva ao comportamento, hoje generalizado, dos nossos concidadãos)."


(J V Mascarenhas)


"As reacções em termos de comentários, oscilaram entre o insultuoso - "Quem diria: a flor mais sensível da blogosfera a dar uma de durão, que nem quer saber. És obtuso, estúpido, bruto e, ainda por cima, finges que não és. Os meus parabéns, deves ter feito o pleno" - o indignado - "Se for estupidez ficar comovido com a morte, em directo, de um homem, então eu sou muito estúpido. Como fui estúpido no 11 de Setembro de 2001. Uma morte é triste. Uma morte em directo é comovente. Lamento que não seja capaz de o sentir! Lamento por si" - o do espectador empatizante - "Às vezes são acontecimentos como este que no abanam e nos fazem perceber que nos andamos a preocupar com coisas que não valem a pena e aí voltamos a casa de damos um abraço especial a quem amamos porque fomos abanados" - e o apoiante - "Nunca pensei dizer isto, mas concordo inteiramente contigo. Só a vida em directo é perceptível??! E o resto? Nunca morreu ninguém antes disto? Mas devemos ser opinião isolada na blogoesfera"

Poucos ficam indiferentes. É quase como se o húngaro fosse a nossa Princesa Diana.

E pergunto-me: e se fosse o Figo ou o Nuno Gomes? Teriam direito ao mesmo tipo de emoção caso se tratasse da morte em combate de um dos nossos GNR's no Iraque?

Agora que é um caso passível de sofrer um bom estudo sociológico, é. Lembro-me que o que me deixou mais perto deste estado catatónico em que vejo as maior parte dos meus concidadãos, alimentados que são pela verdadeira shark frenzy dos OCS, numa serpente ourobouros de sentimentos exacerbados, foi assistir à explosão da Challenger - fiquei de boca aberta, descrente, frente ao televisor. E não sei dizer o porquê desta diferença; só posso invocar o facto de o futebol me ser perfeitamente indiferente."


(Alexandre Monteiro)


"O problema da nossa comunicação social vem sempre depois…

Assisti a um realizador da SportTV que se recusou durante essa perturbadora emissão a fazer um grande plano do jogador que lutava pela vida.
Ouvi os locutores da Rádio (TSF) sem conseguirem racionalizar tudo a que assistiam.
Vi o ar transtornado do jornalista da TVI e do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa quando deram a notícia durante o habitual comentário.
Ouvi os repórteres de pista (Rádio e TV) com imensa dificuldade em descrever tudo que se passava.
Penso que no meio desta atmosfera emotiva se um de nós pensar, sentir que a ambulância demorou mais um minuto daquilo que poderia demorar, que faltava aparentemente um aparelho qualquer, não será natural um momento de interrogação de indignação, mais ligada ao desespero do que à razão?
Nada disso é racional, poderá ser extremamente injusto, mas nada tem haver com o que li algures na blogesfera e descrevia a atitude dos jornalistas como; “avidamente procurada num eventual bode expiatório que daria alimento aos abutres por muitos e largos dias.” Durante aqueles breves, mas eternos momentos não acredito na existência de qualquer tipo de “raça de abutres”.
O problema vem depois.
Quando a mesma imagem (uma imagem de morte) é repetida centenas de vezes. Minuto após minuto, hora após hora, dia após dia, até deixar de nos chocar/emocionar e deixar de “vender”.
Será que ninguém nas nossas televisões se questiona?"


(Rui M.)


"Porquê polemizar até na morte ? Bastava um “até sempre Fehér “ em vez do post com o infeliz titulo que escolheu ."

(Jorge Bento)

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