LUA, MARTE, TUDO 3 (FEITO PELOS LEITORES DO ABRUPTO)
Constatei que de facto a missão da ISS perdeu muita da sua popularidade nos EUA após o acidente ocorrido com o Vaivém no passado Verão. Os custos desde esse acidente aumentaram brutalmente do lado americano, visto que e' o Vaivém o principal veiculo usado para chegar ate' 'a ISS. Para alem disso parece ter havido uma derrapagem geral das contas da missão.
Li o seu texto "Lua, Marte, Tudo" depois de ter assistido ontem na CNN ao debate sobre o discurso feito por George Bush. Parece-me haver um óbvio entusiasmo na NASA com este anúncio, basta ver o sítio da NASA, mas alguns dos cientistas entrevistados mostraram-se bastante cépticos e acharam algumas declarações confusas. E' difícil definir a fronteira entre a boa vontade de empreender um projecto destes e a campanha eleitoral para as próximas presidenciais americanas. Os intervenientes no debate mostraram de forma clara esta preocupação.
Como ja referi em email anterior a ESA tem um programa ja ha dois anos com o objectivo de levar uma missão tripulada a Marte, o programa Aurora. Nesta página pode ver o calendário previsto.
Chegada entre 2030 e 2033. O Canada já se associou 'a missão.
Por isso não faz muito sentido a sua classificação de "o habitual", em relação aos objectivos europeus.
A Europa/ESA/ESO neste momento esta envolvida em todas as "aventuras" mais importantes que se seguem nos próximos anos, a saber:
- O programa Aurora que culminara com uma missão tripulada a Marte.
- O projecto ALMA ao qual se vão juntar os EUA e o Japao.
Para alem disso neste momento a Europa através da ESA e do ESO tem dois projectos que são lideres: o VLT (ESO) que e' só o melhor "telescópio" jamais construído pelo homem, e o INTEGRAL que e' o melhor instrumento que temos no espaço para observar radiação de alta energia (raios X e raios gama). Estes não são projectos menores ou missões habituais. São grandes projectos, que representam em si grandes aventuras técnicas, menos mediáticas do que pisar um planeta, mas cientificamente bem mais relevantes.
Creio que ninguém contesta – pelo menos aqui – a ideia de se tentar ir a Marte. Eu não tenho perdido uma única das conferencias de imprensa da NASA, desde que o primeiro rover deu sinal de vida e a maioria dos meus amigos esta tão excitada como eu.
O que se discute e o facto desta administração andar a retirar dinheiro das universidades, ter metido um yuppie do CityBank a frente do Smithsonian, nao honrar a promessa do Bill Clinton de dar dinheiro a NOAA (a NASA do fundo do mar) e vir agora falar de Marte em ano de eleições. Ainda por cima ninguém percebe porque e que esta administração quer excluir a Europa do programa espacial (American supremacy in space foi a expressao do presidente).
Sobretudo quando o deficit já vai a caminho de meio trilião de dólares, a guerra e um atoleiro sem saída, e cada vez e mais claro que quem vai pagar a factura e a classe media.
(Filipe Castro , Texas, USA )
O cidadão comum não está em condições de poder formular juízos acerca do mérito científico, tecnológico ou mesmo civilizacional, do programa ora anunciado pelo Presidente do EUA.
Contudo, qualquer cidadão, nomeadamente se for potencial eleitor em Novembro próximo, o que nos está vedado a nós - portugueses -, pode e deve questionar-se sobre o significado desse anúncio e do momento escolhido.
Se o Chefe de Estado dos EUA não nos tivesse habituado, nas últimas décadas, a inúmeros anúncios sobre os mais diversos assuntos que dizem respeito à vida da sociedade estadunidense e por arrastamento a uma parte significativa da comunidade humana, eu ficaria surpreso: Afinal alguém assumia a responsabilidade de apontar um rumo a uma Humanidade carente de ideias catalisadoras que dessem um novo sentido à sua difícil Existência.
Mas, afinal, confesso, não passa de um logro:A actual comunidade humana vai, dia-a-dia, continuar a defrontar-se com os mesmos problemas de sempre, independentemente de estarem reunidas ou não as condições políticas, orçamentais,científicas e tecnológicas para iniciar tão utópico projecto.
Crédito teria se tal anúncio fosse antecipado de humilde manifestação de vontade de líderes incontestados da comunidade científica e tecnológica ao apresentar uma proposta fundamentada da real necessidade presente e/ou futura de tal aventura.
(João M. Farias da Silva)
Uma das mais fortes emoções da minha vida, tive-a ao ver partir uma das missões do Space Shuttle. Não é tanto o ambiente de grande festa popular e de alegria genuína que se instala à volta, em pequenas cidades «com vista» para o lançamento ou nas estradas próximas, com «six-packs», e música, e risos e conversas. Nem as chamas dos foguetes, que de repente fazem dia a meio da noite. Nem o som que chega uns segundos mais tarde, reverberando, fazendo tremer o chão. É sobretudo pensar-se que gente sonha uma coisa daquelas, e lhe dedica a vida, a a realiza, e que gente vai lá no nariz de toda aquela força e perigo terrível. É gente do melhor, seguramente, valentes, sonhadores, poetas, grandes corações e cabeças. Um anti-americanista primário (e secundário também) ficaria perplexo vários dias antes de voltar a acoitar-se na sua rotina e azedume.
(José Mendonça da Cruz)
Um programa de pesquisa espacial bem feito, do tipo a que duma forma geral nos habituaram os americanos da NASA e, que infelizmente a Agência Espacial Europeia não o conseguiu em plenitude, é um feito de que os humanos se podem e devem orgulhar, porque demonstra engenho. Além do mais os resultados científicos e tecnológicos adquiridos, aplicados ao nosso quotidiano são sempre uma mais valia.
Quem não se recorda das aplicações resultantes das tecnologias usadas nos projectos Gemini e Apolo e, ainda em fase de estudo do Space Shuttle, aplicadas às ciências que assistem o comum dos mortais? Os campos da meteorologia, da medicina, da cirurgia, das comunicações, da electrónica, ficaram enriquecidos por esses avanços tecnológicos. Em resumo, o programa espacial americano da NASA poderá certamente, mais uma vez, ter aspectos técnicos altamente positivos. É, portanto, de apoiar entusiasticamente este projecto, do ponto de vista científico e técnico.
Cumpre aos especialistas analisar esse programa, de forma a criticar o que nele está mal e contribuir para o melhorar.
Outra coisa é as considerações políticas acerca deste assunto.
Neste caso, as aplicações militares, a oportunidade e, outros considerandos, são temas para análise política. Quanto aos custos deste investimento, porque se trata realmente dum investimento, que naturalmente são elevados, não devem ser discutidos na base de se não seria melhor a sua aplicação noutros projectos.
Com efeito, o que se deveria discutir não são os custos deste programa, mas sim de outros, como por exemplo os de armamento, os custos de guerras preventivas, os de obras sumptuárias e quejandos. A qualidade de vida mede-se pelos resultados dos investimentos e uma racional utilização dos recursos e, por isso, um programa espacial é um meio para a melhorar.