ABRUPTO

7.1.04


EARLY MORNING BLOGS 111

não podiam regressar melhor do que com uma manhã camoneana, a da Ode V. Verdade seja dita que, onde estou, a "noite grave" continua e as "naus" dificilmente se podem alegrar, porque não há "raios" nenhuns. Deixo de parte, como é evidente, qualquer "luz" dos "olhos vossos", porque isso não é matéria de blogue.

Ode V

Nunca manhã suave,
Estendendo seus raios pelo Mundo,
Depois de noite grave,
Tempestuosa, negra, em mar profundo,
Alegrou tanta nau, que já no fundo
Se viu em mares grossos,
Como a luz clara a mim dos olhos vossos.

Aquela fermosura
Que só no virar deles resplandece,
Com que a sombra escura
Clara se faz, e o campo reverdece,
Quando meu pensamento se entristece,
Ela e sua viveza
Me desfazem a nuvem da tristeza.

O meu peito, onde estais,
É, pera tanto bem, pequeno vaso;
Quando acaso virais
Os olhos, que de mim não fazem caso,
Todo, gentil Senhora, então me abraso
Na luz que me consume
Bem como a borboleta faz no lume.

Se mil almas tivera
Que a tão fermosos olhos entregara,
Todas quantas tivera
Pelas pestanas deles pendurara;
E, enlevadas na vista pura e clara,
Posto que disso indinas,
Se andaram sempre vendo nas meninas.

E vós, que descuidada
Agora vivereis de tais querelas,
De almas minhas cercada,
Não pudésseis tirar os olhos delas.
Não pode ser que, vendo a vossa entre elas,
A dor que lhe mostrassem,
Tantas ũa alma só não abrandassem.

Mas, pois o peito ardente
Ũa só pode ter, fermosa Dama,
Basta que esta somente,
Como se fossem duas mil, vos ama,
Pera que a dor de sua ardente flama
Convosco tanto possa
Que não queirais ver cinza ũa alma vossa.


(Camões)

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© José Pacheco Pereira
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