ABRUPTO

18.11.03


OS ATENTADOS DE ISTAMBUL

Conheço bem a rua onde se deu o atentado contra uma sinagoga de Istambul, sob a sombra sempre presente da Torre de Galata, na antiga Pera genovesa. É um bairro de ruas e ruelas de pequeno comércio alimentar, de ofícios antigos e pequenos escritórios comerciais, de ignotas e misteriosas companhias, que têm pouco mais do que o nome. É território que dava para começar um livro de Jonh LeCarré: "um dia um homem bateu às sete da manhã numa porta onde estava a placa escurecida da Eastern Anatolia Carpets and Rugs ...". Infelizmente, o que bateu à porta da antiquíssima colónia judaica de Istambul, e matou muitos bons muçulmanos que passavam na rua, foi uma bomba da Al Qaeda.

Muito significativamente, a bomba explodiu, matou quem matou, aumentou as tensões turcas, mas nem o eco dessa explosão se ouviu de Atenas para cá. Uma multidão prepara-se para "receber" Bush em Londres, com aquela apetência para tomar como alvos preferenciais os nossos, sejam eles menos bons , medíocres, iludidos, arrogantes, enganados, perigosos, estúpidos, ineptos, o que quiserem, e esquecer os verdadeiramente maus, os que não vivem senão de um terror absoluto e abstracto. Quantos dos milhares, dezenas de milhares, centenas de milhares, que vão chamar a Bush assassino, sairiam para a rua contra a Al Qaeda? Não é uma pergunta retórica, é uma provocação pela verdade. Um em dez mil? Talvez, já estou benevolente como Deus com os seus mensageiros a Sodoma e Gomorra, para saber se havia mais justos na cidade do que a família de Lot. Não havia. Como estão confundidas as nossas prioridades!


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© José Pacheco Pereira
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