ABRUPTO

29.11.03


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES

Sobre a TRISTEZA SUBTERRÂNEA

O que encontrou à sua volta no metro, essa sensação angustiante de tristeza nos rostos, nos gestos, na postura, senti-a eu quando fui (temporariamente) da minha Coimbra para os subúrbios de Lisboa, há alguns anos atrás. Em Coimbra os transportes públicos eram e são locais de encontros familiares e habituais. Ouvem-se conversas como se estivéssemos num café, há agitação e risos, por vezes também discussões e os sempre pitorescos lamentos das idosas, que ao mote "Olá, boa tarde, como está?", desenvolvem listas de doenças e queixumes que só terminam na paragem em que desce o ouvinte ou a queixosa. Mas naquelas linhas de comboios suburbanos que conduziam a Lisboa, sobretudo na linha de Sintra, sentava-me a olhar os rostos e os gestos dos passageiros e sentia essa tristeza a inundar a carruagem e a sufocar. A viagem tornava-se longa e as pessoas que se destacavam não o faziam pelo volume da voz ou pela originalidade dos comentários, mas pelo silêncio e pelo vazio que lhes encontrava no olhar. Não exagero, foi o que senti. A verdade é que, nesses momentos, me senti sempre deslocado e com saudades de Coimbra. Hoje, ao ler o seu comentário, recordei-me.

(Paulo Agostinho)

Sobre O ESCRITOR COMO FUNCIONÁRIO PÚBLICO

Sou por definição contra a ideia do subsídio seja para o que for (provavelmente por ter sido agrónoma e ver muito dinheiro desperdiçado) ideia essa que acho que devia ser abandonada por um algo semelhante a um empréstimo, em que deveria uma parte ficar com o projecto que o solicitou e a outra parte, após o fim do projecto retornar ao Estado. Agora subsídios, não, porque sempre me pareceu que criam uma ideia falsa de que são um direito para quem os recebe, não se subentendendo as obrigações reais que estiveram subjacentes ao seu pedido. Pelo menos por cá, é sempre entendido como “olha, se funcionar funcionou senão, paciência”. Sabendo também dos problemas que há na fiscalização, ainda mais me convenço que quem utiliza convenientemente o dinheiro que recebe normalmente não o recebe não quantidade que devia. Se não fosse esse o caso, nesta pequena dezena e um pouco de anos, a nossa agricultura tinha evoluido um pouco mais. O subsídio vai contra o espírito empreendedor.

No caso dos escritores, e sempre me pareceu do teatro e cinema, nunca percebi como é feita uma análise objectiva e concreta num meio cujo resultado me parece sempre tão subjectivo. Está em muito dependente dos gostos de cada um de nós leitores. Actualmente não tanto porque o marketing consegue alterar-nos os gostos e os sabores.”


(Elisa Resina)

Todos os subsídios e bolsas pressupõem uma avaliação feita sobre o trabalho de quem é beneficiário. As bolsas têm um papel a desempenhar, assim como os subsídios, o que deve existir são regras claras e o objectivo da sua concessão estar delineado à partida, assim como as obrigações a que o beneficiário se sujeita.

A escrita ainda é das actividades criadores que se consegue fazer com menores meios, no limite, basta papel e caneta, já outras artes necessitam de mais investimento tecnológico. No caso da fotografia, há sempre alguns gastos que é necessário fazer à partida, embora mesmo com uma máquina muito simples se consigam produzir excelentes fotografias (não no sentido estritamente técnico do termo), tal como os trabalhos de Bernard Plossu demonstram.

No entanto, um dos problemas que se põe tem a ver com a questão da divulgação dos trabalhos uma vez a fase da criação estar terminada. Aí penso que faz falta alguma habituação do público a encarar as artes de uma forma mais natural e não sentirem tanta resistência à compra de obras (obras de artistas reconhecidos e cotados serão sempre relativamente elevadas) e a criarem dessa forma alguma revitalização de um mercado muito inóspito para quem não é conhecido.”



(Mário Filipe Pires)

PORQUE É QUE SE ESCREVE?

Penso que há:

1. Quem escreva por que tem necessidade de escrever.

2. Quem escreva porque necessita de ser lido.

3. Quem escreva porque tem necessidade de ser conhecido.

Podemos até ter diversas combinações possíveis de lógica entre 1, 2,
3 usando com conjunções e disjunções:

1 /\ 2 /\ 3 (escreve por necessidade de escrever E escreve por necessidade de ser lido E escreve por necessidade de ser conhecido)
1 \/ 2 /\ 3 (escreve por necessidade de escrever OU escreve por necessidade de ser lido E escreve por necessidade de ser conhecido)
1 \/ 2 \/ 3 (escreve por necessidade de escrever OU escreve por
necessidade de ser lido OU escreve por necessidade de ser conhecido)

etc etc etc :-)

Atribuindo valores de Verdadeiro ou Falso a 1, 2, e 3, podemos obter resultados sobre cada uma das counjunçoes/disjunções :-)”


(Nuno Figueiredo)

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]