ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
|
18.11.03
MÁQUINA / HOMEM 3
"Os comentários que li sobre o duelo homem versus máquina no domínio do xadrez deixaram-me confuso e um pouco perplexo. 1. Não é nenhuma tragédia, nem nenhuma vergonha, o homem ser vencido por uma máquina. Se isso nos perturba, então também deveriamos ficar perturbados com o facto de os carros (ou as bicicletas) correrem mais depressa do que nós, de os aviões poderem voar e nós não podermos, de os rádio-telescópios verem mais longe do que nós, de as calculadoras conseguirem multiplicar números mais depressa do que nós. 2. Se a industria de componentes electrónicos continuar a desenvolver-se ao mesmo ritmo como até agora (o que é muito provável), os computadores acabarão por vencer sistematicamente os humanos, tanto em xadrez como no go e noutros "jogos finitos" (em que há um número finito de jogadas de cada vez). Isto é tão certo como amanhã ser outro dia, pois a velocidade de cálculo dos computadores tem-se duplicado todos os três ou quatro anos, enquanto que a velocidade de pensamento dos humanos permaneceu mais ou menos constante ao longo da história. Maior velocidade de cálculo significa mais jogadas potenciais analisadas e comparadas e portanto melhor estratégia. É matematicamente impossível os humanos não perderem frente às máquinas, a longo prazo. Aliás, se há coisa que me espanta nesta história é algum humano ainda ser capaz de vencer um jogo de xadrez a uma máquina. Chego mesmo a pensar que os programadores da respectiva máquina não devem ser brilhantes. 3. Por outro lado, não é muito correcto dizer que "a máquina vence". Quem vence é na realidade um programa escrito por uma equipa de humanos." (Cristian Barbarosie) "Termina o seu post "MÁQUINA / HOMEM" com a seguinte frase: ... "Antes de tudo, no último jogo, Kasparov ganhou - ponto para os humanos." Independentemente de quem ganhe, Kasparov ou qualquer outro homem, ou a máquina, o ponto será sempre para os humanos. Porquê? Não foram os humanos que criaram e programaram a máquina e o jogo? Então, ponto para os humanos!" ( Ourives-da-coroa ) "O que comentaram várias colegas de IBM quando Kasparov perdeu: "Durante o jogo de 1997 IBM tinha programadores alterando o código do programa, tornando imposivel a Kasparov pudesse estudar quem tinha em frente, pois era o mesmo que de jogada em jogada tivesse uma pessoa diferente, explicando a razão porque Kasparov se levantou super chateado da mesa quando perdeu." Não sei de certeza se é verdade esta informaçao que lhe envio, mas que seria possível, sim que é verdade. "The contest is the latest in Kasparov's quest to outsmart computers at the ancient game. He defeated IBM supercomputer Deep Blue in 1996, lost famously to an improved Deep Blue in 1997 and in Feb. 2003, tied with Israeli-built world chess computer champion Deep Junior." (João Paulo Reis) NOTA: na história do "humanos marcam um ponto" pretendia ser irónico, e não é para tomar à letra, nem tenho qualquer nostalgia sobre a "ultrapassagem" dos humanos pelas máquinas. Bem pelo contrário. O que penso sobre a matéria encontra-se num artigo já antigo, publicado quando do jogo com o Deep Blue, o qual não tenho comigo agora, mas que, se a discussão continuar viva, republicarei. Aí afirmo claramente que não acho que haja nenhuma limitação de fundo à descrição dos humanos como uma máquina (logo, admitindo a possibilidade de "artificialização"), incluindo pensamentos, afectos e criatividade. E até penso que séries de testes, ao modelo do de Turing, sobre cada uma destas componentes, podem dar resultados surpreendentes, já. É uma discussão (faz falta a Formiga de Langton), que remete para praticamente todo o saber humano, desde a filosofia até à genética, com relevo para a biologia, a teoria da evolução, a robótica, a inteligência artificial, por aí adiante. (url)
© José Pacheco Pereira
|