ABRUPTO

14.11.03


FILOSOFIA NOS JORNAIS

"Saíram no Público de ontem três textos sobre Derrida, a propósito do doutoramente Honoris Causa que lhe vai ser atribuído pela Univeridade de Coimbra. Um desses textos, de Raquel Ribeiro, é o seguinte:

O Desconstrucionismo de Derrida

"A noção de desconstrução foi apresentada pela primeira vez por Jacques
Derrida na introdução à sua tradução de 1962 da «Origem da Geometria»,
de Husserl. O processo de desconstrução, explica José Bragança de
Miranda, docente da Universidade Nova de Lisboa, é «uma metodologia
que trabalha para a 'abertura do sentido' do texto filosófico, através
de procedimentos como a inversão, deslocação ou análise». «O
desconstrucionismo não está fora do tempo da criação, não é 'a
posteriori', tem de estar presente na arquitectura do trabalho da
construção», diz Derrida no documentário. A desconstrução privilegia
leituras dentro do texto, incluindo referências históricas, culturais
e sociais. Para Derrida, «não há nada para além do texto». Porque é
que Derrida é importante? «Porque tem um pensamento interveniente que
propõe uma releitura da filosofia contemporânea, como Heidegger, Marx
ou Husserl», diz Bragança de Miranda. «A receptividade americana à
metodologia da desconstrução acabou por dar uma maior projecção a esta
filosofia.» Muitos teóricos enquadram o pensamento de Derrida no
pós-estruturalismo (americano) ou no pós-modernismo (europeu). Mas
Bragança de Miranda vai mais longe: «Colocá-lo-ia no limite da
filosofia, numa certa órbita do fechamento filosófico, na fronteira
dessas correntes. E não para além delas.»

Ao ler exte texto, não consigo deixar de pensar que nenhum editor do Público permitiria a publicação no caderno principal do jornal de um texto sobre qualquer outra área do conhecimento (Física, crítica musical, Economia, urbanismo, etc) que fosse tão incompreensível para o grande público como este. Já há bastante tempo que me apercebo deste carácter particular da Filosofia em Portugal: julgo ser a única área do conhecimento relativamente à qual se publicam, em publicações generalistas, textos que exigem uma grande preparação teórica específica."


(José Carlos Santos)

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