ABRUPTO

30.11.03


DRUM TAPS: A GUERRA CIVIL


Acabei finalmente de ver a longa série de episódios da The Civil War de Ken Burns. Junto com o Shoah de Lanzmann, com a qual tem aliás parecenças na economia de meios e na intensidade dramática que consegue com essa economia, representa o melhor que se pode fazer em documentário histórico, sendo eles próprios obras de grande qualidade estética.

É difícil dizer o que é melhor nesta história dos anos da guerra da Secessão: se o retrato das principais personagens, Lincoln primeiro, depois os grandes militares de ambos os lados, Grant, Lee, Sherman, Forrest, e incontáveis comandantes forjados no combate, se a longa sucessão de fotografias a preto e branco, parte do milhão de negativos tirados durante a guerra, ou se os comentários de grande proximidade afectiva de um escritor do sul, Shelby Foote.

Uma coisa a série faz com absoluta precisão: o uso das palavras, das frases, das cartas, dos discursos, das notas, dos diários, dando-lhe uma forte textura literária. E se nessas vozes, muitas vezes quase anónimas, emergem com grandeza as de Lincoln e Douglass, também é evidente que um enfermeiro voluntário de Nova Iorque, de nome Walt Withman e autor de um livro considerado ofensivo, estava a escrever páginas únicas sobre a experiência da dor e da guerra.

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© José Pacheco Pereira
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