ABRUPTO

30.10.03


VULCÕES: PITON DE LA FOURNAISE

(Perdido nos arquivos está a memoria de outro vulcão, La Solfatara)

Pouco a pouco, deixa-se a pequena França creoula dos trópicos, com o calor dos trópicos e o mar absoluto das ilhas, e vai-se subindo, primeiro aos mil, e depois aos dois mil metros. A mil metros, entra-se numa fantasmática Suiça, pastagens alpinas, árvores alpinas e vacas alpinas. Começa a ficar frio, mas frio a sério, e uma bruma permanente corta quase toda a visibilidade. A paisagem esplendorosa das ilhas vulcânicas começa a impor-se e já não são os Alpes a referência que se lembra diante destes desfiladeiros de basalto, cobertos de verde e verde e verde.

De repente, numa curva, um vale como nunca vira nenhum, entalado entre encostas quase a pique. Resultado do abatimento de uma câmara de magma e depois moldado pelas chuvas violentas dos ciclones, La Rivière des Remparts é hoje desabitado, tal o susto, nos anos sessenta, por que passou uma pequena comunidade quando uma parte de uma destas encostas lhe ia caindo em cima. Uma barragem natural foi o que resultou desse desabamento. Também aqui, os mais estreitos vales alpinos, de origem glaciar, parecem largas avenidas. O relevo, mesmo quando, subindo, parece a pique, nos Alpes ou nos fiordes noruegueses, tem pouco a ver com as paredes a quase noventa graus da Rivière des Remparts, rasgadas apenas, no meio do verde, pelo sulco das quedas de água.

Subindo mais, o verde começa a desaparecer, entramos no império dos líquens e da urze, do cinzento e do amarelo brilhante das flores. A natureza das pedras não engana ninguém - aproximamo-nos de um vulcão e a terra que pisamos é cada vez mais nova.


PLANÍCIES, PLANALTOS, AREIAS, CINZAS, LAVAS, CONES E CRATERAS

(em breve)


(Plaine des Sables, olhando para ocidente)


(Formica Leo, um cone "stromboliano", hoje)


ERUPÇÕES

A última erupção do Piton de la Fournaise foi em Agosto e terminou em 30 de Setembro. A próxima pode ser hoje ou amanhã. Ontem, todas as pessoas que se encontravam nesta área, de onde estou a pensar no que agora escrevo, foram retiradas, algumas de helicóptero, devido ao acumular rápido de sinais percursores de nova erupção. A terra treme e observam-se alterações no volume da cratera Dolomieu.


(Enclos Fouqué e Formica Leo, hoje)

Hoje, olho a grande superfície de lava negra que enche o Enclos Fouqué , à minha frente estão as crateras Bory e Dolomieu, a "cratère brûlant". A lei de Murphy vai funcionar de novo e, depois de tanto esforço para ver a “fornalha” activa, vou falhar por um dia ou dois. Trago comigo uma pequena pedra, porosa e leve, avermelhada pela oxidação, atirada pelo vulcão, há dias ou há mil anos, volto as costas e desço.


(Crateras Bory e Dolomieu, hoje)


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© José Pacheco Pereira
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