ABRUPTO

2.10.03


PODER E ESTÉTICA

Este livro, que saiu agora em paperback (Frederic Spotts, Hitler and The Power of Esthetics, , Londres, Pimlico, 2003), é um excelente instrumento para discutir Riefenstahl, junto com um ensaio já antigo de Susan Sontag sobre a componente sadomasoquista do nazismo. Contrariamente à percepção corrente, os nazis davam muita atenção às artes e não eram propriamente os brutos ignorantes que se imagina.

Nazis e comunistas consideravam que a criação estética era a última legitimação do poder e mostraram uma grande capacidade de entender a modernidade, principalmente quando ela servia para a propaganda. Hitler e Staline interessavam-se pela arquitectura, o cinema e a música, e ambos patrocinaram o equivalente aos actuais “ministérios da cultura”, que nenhuma democracia imaginava ter antes de Malraux.

Habituados a seguir o pós-Malraux, via Lang, consideramos hoje natural aquilo que seria completamente bizarro numa democracia no tempo de Hitler e Staline: que um governo pudesse “dirigir” a cultura, sem que isso fosse entendido como propaganda.

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© José Pacheco Pereira
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