SOBRE A PALAVRA DE HONRA, OS EXEMPLOS VÊM DE CIMA…, ETC.
"Começo esta missiva pela citação de escrito seu no "abrupto":
« É mais fácil mudar os ministros do que mudar os hábitos sociais, e é por isso que estas ondas de indignação são hipócritas até à raíz dos cabelos. Só se consegue manter uma sociedade baseada nas cunhas quando essa mesma sociedade tem estes sobressaltos self- righteous. A onda de indignação faz parte do mesmo fenómeno, é parte do mesmo atraso, nasce da mesma massa das cunhas.»
De facto, demitido que está o ministro, enviada que vai ser a filha do outro para o estrangeiro, e reclamada por uns a inocência e a honra do pai, enquanto que por outros a sua cabeça, não ouvi ninguém insurgir-se contra a lei que legaliza a excepção (ou antes, as excepções).
Porque no fundo, o que o director geral fez foi dar um parecer de extensão, de uma excepção legal, à forma de selecção na entrada na universidade. E esse regime de excepção que previligia os filhos de emigrantes, os naturais da Madeira e dos Açores e os Palops, mesmo em cursos onde a pressão de entrada é violenta como no caso da Medicina, não é contestado por ninguém.
De facto, como muito bem diz, «a onda de indignação faz parte do mesmo fenómeno, é parte do mesmo atraso, nasce da mesma massa das cunhas» e feito o alarido, a excepção vai manter-se para que outros privilégios e cunhas possam continuar a acontecer.
Afinal, obrigar o contribuinte português a financiar a formação em medicina do filho de um ministro de Angola, Moçambique, Cabo-Verde ou Guiné, é muito mais "justo e democrático" do que permitir que a filha do ministro português se torne uma excepção em si mesma."
(Francisco Santos)
“Estou como o Senhor, no meu tempo (não será em todos os tempos) a palavra de honra era (é) um valor, é um contrato feito entre quem a diz e quem a ouve. Selado pela atitude e configurado pela idoneidade dos intervenientes acto.
Subentendo que esse “posted” tem a ver com o “pormenor” político que nos assaltou na semana passada. Pormenor, entendo eu, que apenas tomou as dimensões porque a comunicação social fez dele um caso e, porque os envolvidos lhe deram oportunidade para isso. Não era um caso nacional (refiro-me às proporções que tomou), era, pelo que os envolvidos disseram um caso de honra, resolúvel em sede adequada.
Tem razão quando diz que as demissões constituem hoje, parece, uma banalidade, uma reacção que dá jeito no desconforto criado a uma figura pública.
Perdeu-se o sentido de ver no pedido de demissão um acto de coragem, um ponto final numa situação insustentável, que tem por base duas premissas:
- Ou se é acusado injustamente e, é a saída para manter uma coerência na acção, na idoneidade e na dignidade da pessoa. É justificada pela impossibilidade de continuar a desempenhar uma função por falta meios e de confiança.
- Ou se reconhece uma conduta infeliz e irreparável e, assume-se o erro.
Não vejo outra justificação para as demissões mas, a dúvida em relação a um acto praticado não o é certamente.”
(Rui Silva)
“O problema não é a honra do ministro. O problema é que um requerimento feito por um ministro, a outro ministério, deverá ser respondido por outro ministro, ou será que agora um director geral ou lá o que é o homem responde a um ministro que não é o dele? Para além do que está dito podemos voltar ao velho dito que diz que “à mulher de César não basta ser séria”…”
(F. Oliveira Dias)
“ A propósito de "os exemplos vêm de cima..." fez-me recordar que uma das primeiras coisas que aprendi com o meu avô foi a não dizer palavra de honra. Dizia-me ele, na sua infinita sabedoria, que palavra só há uma.
Nunca se deve dizer palavra de honra, porque, continuava ele, dá a sensação que temos mais do que uma.
Fiquei perplexo quando ouvi o nosso ministro de N. Estr. utlilizar a sua palavra de honra.
Será que ele também a emprega nas reuniões a que assiste ?
E discordo da sua caracterização da nossa sociedade como mergulhada em hábitos de patrocinato e clientela. Alguma parte dela sim, mas não podemos ser tão radicais. Nunca na minha vida profissional ou pessoal "meti" uma cunha. E como eu muitos outros que conheço, anónimos portugueses.
E também não é verdade de se perdeu a medida: o ex-ministro da Educação não a perdeu.
A questão de fundo, prezado Dr. Pacheco Pereira, que se está a tornar demasiado óbvia, é que o Dr. Durão Barroso não consegue encontrar gente de qualidade para fazer parte do seu elenco governativo. Será porque não há ? Não, é porque não querem.
E este não querer é que é o verdadeiro problema.”
(João Costa)
“O problema é mesmo esse, "O Poder"! Porque é que um Ministro ou Director Geral tem "O Poder" de decidir quem entra na Universidade? Não deveria ser "apenas" a lei a funcionar?
Porque é que "O Poder" é tão apetecível para que Directores Gerais, Embaixadores e outros bem instalados na vida, ponham em causa o seu bem estar, o bem estar da sua família, o não serem conhecidos pela Comunicação Social, para irem trabalhar (muito) mais e ganhar (muito) menos?
"O Poder" deixa-nos com vontade de fazer algo... A capacidade de intervir na vida das pessoas concretas (não falo aqui do poder legislativo que esse, penso, ainda pertence à Assembleia da República).
Não seria muito mais fácil que "estas coisas" não dependessem dum despacho dum Ministro qualquer? Caramba, não é difícil entender o drama de uma aluna que, mesmo sendo filha de um colega do Ministro, até ficou prejudicada por mais uma alteração da mudança de residência do pai (teoricamente, para continuar a servir o país...). O que vale mais? Passar 6 anos a "passear" de escola em escola no estrangeiro ou "apenas" acompanhar o pai no 12º ano?
O mal, penso eu, é o Ministro ter "O Poder" de compreender a injustiça desta excepção à lei.
O mal, foi a filha do Ministro não se ter quedado mais um "anito" lá por Madrid, como fazem todos os outros, mesmo que, assim, as suas notas piorassem devido à destabilização emocional motivada por viver sem a família aos 16/17 anos.
Porque foi compreensivo, decidiu intervir! Assim, demitiu-se. O Estado Português é que, conforme dizem, fica a perder. No mínimo, ficará com uma "segunda escolha" de Durão Barroso.
Por mim, até para evitar futuras tentações, as leis deveriam ser mais claras, mais acessíveis a todos, até para evitar que, aqueles que têm "O Poder" de recorrerem ao Tribunal Constitucional e "O Poder" de verem os seus recursos a serem decididos em tempo "normal" (anormal para a velocidade da justiça portuguesa), possam ver as nossas leis "adaptarem-se" aos seus casos específicos. Eu, como o Ministro, o Bastonário, alguns deputados e "opinion makers", compreendo aquilo que muita gente passa em Portugal, com as previsões preventivas, sem saberem de que são acusados, quanto mais ainda presumíveis inocentes.
Mas estas prisões preventivas, tão longas, apenas aconteceram agora?
Foi só neste caso que houve um despacho deste tipo, motivado pela compreensão da situação?
Ou anda alguém por aqui a "mexer uns cordelinhos", tentando afectar a credibilidade deste Governo, que quer mudar muita coisa em pouco tempo?
Isto faz-me lembrar uma afirmação interessante que ouvi há pouco tempo: "Nós, os portugueses, achamos que tudo está mal! Tudo! No entanto, quando desafiados para a mudança..."
(NM)
“Sou docente do superior, e esta história dos ministros deixou-me tão sensibilizado ao ponto de pela primeira vez escrever assim a alguém.
Pode até existir um buraco na lei. Mas como posso confiar em alguém que se aproveita dos buracos na lei ? É o contrário dos princípios éticos que tentoo passar aos meus alunos. A dignidade perdeu-se...totalmente. Estou triste, nem sequer revoltado. Triste apenas com este meu país que me envergonha todos os dias.”