ABRUPTO

14.10.03


LEITURAS DE AVIÃO

Numa viagem longa lê-se muito no avião. Desta vez, tive sorte com a imprensa: foi um dia em que vários jornais internacionais tinham artigos ou notícias que valiam a pena (deve haver ligações para quase todas estas notícias, mas não tenho condições para as procurar).

O Fígaro, que é normalmente um melhor jornal, mais sólido que o Monde, publicava alguns resultados de um grande estudo feito sobre o sistema educativo francês, a pedido do Presidente Chirac. A ideia base do documento é identificar por que razão o sistema educativo não cumpre os seus objectivos e está claramente a recuar nos seus resultados. Há em França um grande debate sobre educação e valia a pena acompanhá-lo de Portugal e repetir alguns dos estudos aprofundados que estão a ser feitos.

Uma conclusão interessante do estudo francês é a clara manutenção da diferenciação social em todo o percurso escolar, apesar da forte pressão igualitária (e se calhar por isso mesmo) da escola.

O Fígaro publica também, sob a forma de um artigo, um excerto de um livro de Alain Finkielkraut e de Peter Sloterdijk, intitulado, de modo muito francês e sem qualquer imaginação, “crítica da razão extremista”. Já não sei quantos textos franceses são de “críticas à razão” de qualquer coisa…

O texto é muitas vezes obscuro, mas algumas observações têm interesse, como seja a análise da exclusividade que a esquerda se atribui do perdão, do perdão a si própria:

La gauche contemporaine est la partie de la societé ayant le privilège de se faire pardonner ses propes erreurs »

No La Repubblica , um balanço bastante pessimista do estado de sub financiamento das instituições culturais italianas, museus, arquivos, bibliotecas. O El Pais tem uma grande entrevista com a ministra espanhola da cultura.


O Observer publica uma lista dos cem maiores romances dos últimos quatrocentos anos. Como todo o coleccionador, eu gosto de listas e de me confrontar com elas, de comparar a “minha colecção” com as dos outros.

Na lista do Observer, eu lera cerca de quarenta livros em cem, embora numa ou noutra obra (como o Robinson Crusoé ou o Huckleberry Finn), em edições que penso não serem integrais ou terem sido condensadas. Não sei se conta para a “colecção”, que aliás não é muito difícil de fazer porque muitas obras são as básicas: D. Quixote, Flaubert, Kafka, Joyce, etc.

Mas, com alguma surpresa, havia na lista cerca de 15% de romances de que eu nunca tinha ouvido falar. Não é não ter lido, isso há muito mais, mas nunca, jamais, em tempo algum, ter ouvido falar. Aqui está a lista das faltas absolutas:

Samuel Richardson, Clarissa

Thomas Love Peacock , Nightmare Abbey

George Eliot, Daniel Deronda

Erskine Childers, The Riddle of the Sands

Keneth Grahame, The Wind in the Willows

John Buchan, The Thirty-Nine Steps

Flannery O’Cooner, Wise Blood

Chinua Achebe, Things Fall Apart

Elizabeth Taylor, Mrs Palfrey at the Claremont

Beryl Bainbridge, The Bottle Factory Outing

Marylinne Robinson, House Keeping

Peter Carey, Oscar and Lucinda

Se calhar é injusto, mas, com excepção do Clarissa , que seria “unputdownable”, também a nota que justifica a sua inclusão não me entusiasma muito a lê-los.


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© José Pacheco Pereira
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