ABRUPTO

19.10.03


ISTAMBULIANA

Reúno aqui algum correio e notas de vários blogues, sobre Istambul e outras questões associadas. Obrigada aos meus leitores e aos meus amigos, companheiros, camaradas (a palavra não tem peçonha), pela oportunidade de aqui se poder falar em “rede”, fio daqui para ali, conversa acabada ou inacabada, memória puxa memória, para conservar no extremo Ocidente esse fragmento do Oriente, demasiado próximo. Não somos “turcophiles”, como Pierre Loti no seu “Stamboul”, mas há “filias” aqui.

E obrigada também aos que não cito, mas que em correio privado se referiram às várias formas de “divina sabedoria”.

Acrescentei, como prometido, para melhorar o texto pela visão daquilo de que se está a falar, algumas imagens lá mais para baixo. Em complemento, vale a pena ver as fotografias que Mário Filipe Pires colocou na Retorta, tiradas em 1992.

Há muitos livros sobre Constantinopla e Bizâncio, mas os meus preferidos como leitura obrigatória e introdutória são os de Steven Runciman, em particular The Fall of Constantinople 1453 , Cambridge University Press, 1992. Na mesma colecção popular da CUP, a “Canto”, há uma biografia de Constantino XI e uma colecção fascinante de retratos de mulheres bizantinas de autoria de Donald M. Nicol , The Immortal Emperor. The Life and Legend of Constantine Palaiologos , Last Emperor of the Romans, Cambridge University Press, 1994 e The Byzantine Lady. Ten Portraits 1250-1500, Cambridge University Press, 1996.

Acrescento dois que comprei agora e que me foram muito úteis : Sulyman Kirimtayif, Converted Byzantine Churches in Istanbul. Their Transformation into Mosques and Masiids, Istambul, Yayinlari, 2001, e Faruk Ersöz, A Stamboul avec Pierre Loti, Istambul, Yayinlari, 2001.

O subtítulo deste último é “cela dure si peu, à mon age les étes”.

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Leio as suas impressões de Istambul e não deixo de rever as minhas férias deste Verão e as sensações que essa cidade me gravou... chegamos cheios de nós próprios e das nossas pequenas certezas e, de repente, vamos deixando cair tudo e ficamos despojados. A partir daí, recebemos e recolhemos o que Istambul nos oferece e deixamo-nos embalar numa melodia hipnotizadora de cheiros, de sons, de hábitos, de estranhas formas de vida.(…) O meu hotel também estava perto da Ayasofya e o constante chamamento à oração (curiosamente a oração parecia distinta às restantes mesquitas da Turquia) - infelizmente gravado - ajudou-me muito a reviver as madrugadas do almuadem de Saramago...

Se procurar entrar a fundo na vida turca, as sandes de peixe à beira da ponte de Galata são uma opção pouco turística e felizmente sem muitos espanhóis à volta...acredite que se tem a sensação de estar noutro mundo...e também apanhar um autocarro do outro lado da porta do Bazar das Especiarias, passar duas ou três paragens, visitar uma igreja católica e um jardim bonito e passear por um bairro onde as pessoas raras somos nós.. aí sim, é a verdadeira vida turca, bem mais árabe do que europeia, com casas de dois pisos, roupa a secar nas ruas sujas, se balader sem sermos assediados porque, aí, o comprador é o turco e não o guiri.”


(Sílvia Jardim)

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Nuno Mendes, no Klepsydra , coloca bem a questão do papel do dinheiro de Bruxelas na uniformização das sociedades e dos produtos, embora já haja “4 MacDonalds à volta de Hagia Sofia ou da Mesquita Azul” , à volta de todas as coisas. A minha dúvida tem a ver com a pobreza, com a pobreza que, quer queiramos quer não, é também uma das razões desta diversidade. Prolongo essa dúvida, perguntando-me até que ponto somos nós (os ricos) que podemos escolher não ir aos McDonalds (embora vamos), que desdenhamos o seu papel em sociedades como esta. Quem diz os McDonalds, diz o "dinheiro de Bruxelas".
Seja como for, aqui fica a nota, que transcrevo:

No post Istambul2 Pacheco Pereira afirma que os burocratas de Bruxelas nunca terão hipótese de uniformizar as ruas caóticas desta cidade turca. Também já lá estive e até percebo o que quer dizer JPP, aquilo realmente impressiona pela diversidade e pela riqueza cultural, o problema é que Bruxelas tem uma forma muito simples de corromper até as culturas mais vivas, basta para isso dar dinheiro para que "eles" fiquem mais parecidos com os "outros" que somos nós (somos? queremos ser?).

Quando se diz a um agricultor que tem de deixar de plantar um certo tipo de tangerinas que embora saborosas não podem ser vendidas num qualquer "Pingo Doce", podem ter a certeza que ele não tem escolha e passa a plantar maçãs "Golden Smith" como todos os outros agricultores europeus. Não há maneira melhor de convençar alguém a mudar, por dinheiro todas essas mil variedades de azeitonas de que fala Pacheco passarão a uma só, a oficial, a europeia, e no momento em que houver 4 MacDonalds à volta de Hagia Sofia ou da Mesquita Azul, poderemos finalmente dizer que a Turquia faz parte do clube dos países civilizados, modernos e cada vez mais tristes...”


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JMT, a propósito das “conversas islâmicas”, acrescenta uma outra em Exacto, resultante de uma viagem ao Egipto.

(url)

© José Pacheco Pereira
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