ABRUPTO

7.10.03


EARLY MORNING BLOGS 57

Um poema de Sophia de Mello Breyner (lembrança de Rita Maltez), em que se fala da “verdade da manhã”,que , para a manter límpida , chega por hoje.


"Quando brilhou a aurora, dissolveram-se
Entre a luz as florestas encantadas
Arvoredos azuis e sombras verdes,
Como os astros da noite embranqueceram
Através da verdade da manhã.

E encontrei um país de areia e sol,
Plano, deserto, nu e sem caminhos.
Aí, ante a manhã, quebrado o encanto,
Não fui sol nem céu nem areal,
Fui só o meu olhar e o meu desejo.
Tinha a alma a cantar e os membros leves
E ouvia no silêncio os meus passos.

Caminhei na manhã eternamente.
O sol encheu o céu, foi meio-dia,
Branco a pique, sobre as coisas mortas.
Mais adiante encontrei a tarde líquida,
A tarde leve, cheia de distâncias,
Escorrendo de céus azuis e fundos
Onde as nuvens se vão pra outros mundos.

Um ponto apareceu no horizonte,
Verde nos areais como um sinal.

Era um lago entre calmos arvoredos
Não bebi a sua água nem beijei
O homem que dormia junto às margens.

E ao encontro da noite caminhei.



Bom dia.

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© José Pacheco Pereira
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