ABRUPTO

3.10.03


EARLY MORNING BLOGS 54

A Formiga explodiu, tornando-se o primeiro blogue a desaparecer com grandeur no imenso espaço do futuro. Que tenha sido uma formiga e não a "colónia" (a “antcolony” que assinava as notas) explica a explosão. Como é que uma formiga se transforma num indivíduo? Se uma formiga se comporta com individualidade, que perturbações profundas gera no comportamento colectivo de que ela é uma peça? E vice-versa?

O escritor que mais cedo percebeu estes dilemas foi Kafka. As suas formigas nunca ganhavam verdadeira individualidade, mas apercebiam-se do poder do grupo, da “colónia”, do “colectivo”, porque o podiam ver de fora, podiam ver o seu mecanismo porque eram vítimas dele.

Porque é que elas viam e as outras não? Se Kafka se limitasse a contrapor individualidade / sociedade, na tradição do seu tempo (por exemplo, no teatro de Ibsen), não teria sido tão inovador como é. Não. A formiga “perde-se” da colónia por acaso, por um destino tão cego como as regras do grupo. A formiga K. é processada por erro burocrático, e, quer no Processo, quer no Castelo, nunca verdadeiramente sai do labirinto porque não há, no seu término, qualquer liberdade, logo nenhuma individualidade é possível. No início do século XX, Kafka percebeu o poder colectivo da burocracia moderna, o poder do “enxame” e como a sua força anónima podia levar a momentos como a “solução final”.


Agora que a Formiga morreu de morte inatural, transcrevo aqui uma das citações mais interessantes da blogosfera, que o seu autor repetiu agora , mas que já lá tinha posto há muito:

Major Tom - If Control's control is absolute, why does Control need to control?

HAL9000 - ... Control needs time.

Major Tom - Is Control controlled by his need to control?

HAL9000 - Yes.

Major Tom - Why is Control need Humans, has you call them?

HAL9000 - Wait ! Wait! Time are lending me...; Death needs time like a Junkie needs Junk.

Major Tom - And what does Death need time for?

HAL9000 - The answer is so simple ! Death needs time for what it kills to grow in!


(Dead City Radio, William S. Burroughs / John Cale , 1990)

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]