ABRUPTO

17.10.03


CONVERSAS ORTODOXAS

A igreja ortodoxa pode-se considerar a herdeira mais próxima do império bizantino. O poder que sobrou, de Moscovo a Atenas, ficou aqui, nesta igreja antiga que, mais do que qualquer outro ramo do cristianismo, se associou à ideia de uma teocracia.

Enquanto no ocidente europeu a igreja “latina” perdeu esse vínculo teológico com o estado, não só pelas suas divisões internas (o protestantismo, as igrejas reformadas), como pelo ascenso das ideias da revolução francesa, da laicidade do estado, e também do nacionalismo romântico. Mesmo o anglicanismo, ao “nacionalizar” a igreja politicamente, tornou civil o vínculo entre o estado (a monarquia) e a igreja. Ritualizou-o como instituição humana e não como instituição divina.

A igreja ortodoxa sempre teve uma grande capacidade de sobreviver ligando-se ao poder, como no período comunista, em que os altos dignitários da igreja mantiveram, após uma crise inicial, uma relação próxima com as autoridades comunistas. O mesmo aconteceu com a longa convivência nas antigas terras cristãs ocupadas pelo Islão.

Nesta parte do mundo, o nacionalismo oitocentista, que noutros sítios foi um instrumento de laicidade, encontrou na ortodoxia um instrumento de expressão. E igrejas como a “grega” e a “sérvia” tornaram-se em igrejas de fronteira, instrumentos da identidade nacional dos povos cristãos, contra o Islão.

(Continua)

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© José Pacheco Pereira
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