ABRUPTO

17.10.03


CONVERSAS ISLÂMICAS

Conversa com A. , jovem muçulmana turca, que usa o véu cobrindo a cabeça, o que não é muito comum nas jovens da sua idade e condição social. “Usas o véu para marcar uma posição?”. “Não, uso-o desde os oito anos e, por causa de o usar, não posso entrar para a universidade, nem ser funcionária pública”. A. foi estudar para a London School of Economics, e trabalha nas relações internacionais do Partido para a Justiça e Desenvolvimento, o partido islâmico moderado actualmente no poder.

Este é um dilema da democracia na Turquia: as origens da laicidade do estado (de que nós gostamos), tem como penhor o exército turco e os seus poderes “especiais” (de que não gostamos), que se manifestam limitando o poder do partido que ganha as eleições para implementar políticas como seja a liberdade de usar o véu nas instituições públicas.

“Mas”, disse eu, “depois não haveria tendência para pressionar quem não o usasse?”. A resposta de A. sobre a tolerância não me convenceu, porque em muitas cidades árabes que eram liberais, Argel, Casablanca, Bagdad, ano após ano, nos últimos dez anos, as mulheres tinham (e têm) cada vez mais dificuldade em sair à rua vestidas à ocidental, os lenços eram quase obrigatórios, as saias eram todos os dias mais longas, as roupas tapavam mais o corpo.

Não é simples.

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© José Pacheco Pereira
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